quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

...



Sinto nos ombros o peso de todos os dias vividos
nas pernas o cansaço acumulado de todos os caminhos desbravados
na cabeça a dor de todos os problemas sofridos
e no coração o desgaste de todos os amores mal amados
Sinto que não me sinto
e isto já é demais para se sentir!



Fotografia: The shortest distance by Raun
http://raun.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

Reticências


Parece que falamos em caminhos opostos
as palavras não se cruzam
os sentidos divergem
os pontos seguem-se um a um
um ponto, outro ponto, outro ponto
e no ar ficam as reticências do que há-de vir
Falamos sem nos falarmos e é nos espaços entre as palavras
que fica o dito pelo não dito, que fica o que ainda está por dizer
Nos silêncios é onde nos encontramos
e na dor das palavras por parir
ficam as palavras que por não terem sido ditas
nunca as conseguiremos digerir.


Fotografia: This is my love story II de Mehmeturgut
in http://mehmeturgut.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Pedaços


"Pedaços de uma vida perdida
pedaços jamais encontrados
pedaços que eu colei na vida
estão de novo despedaçados
Coisas e mais coisas sem sentido
passaram por mim tão depressa
que eu não os vi passar e comigo
restou apenas o que não presta..."


(Excerto de um texto meu que remonta ao ano
de 1991 se a memória não me falha)



Fotografia: Grace by Aiae
(Todos os Direitos reservados)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Sentir


Queria brincar
voltar a saltar, a correr e a rir
a rir sem controlo até chorar
a chorar de tanto me divertir
Queria voltar a saltar à corda
saltar ao elástico, brincar à macaca
Correr atrás para depois ser eu a fugir
e com giz desenhar no chão os quadrados a evitar
Queria voltar a sentir
a ansiedade que só as crianças sentem
no dia anterior a irem sair
As noites mal dormidas
apenas pela expectativa
das prendas por abrir
Sentir tudo de novo
e ainda ter tudo por sentir!


Fotografia: Poseurs by Lunay
(Todos os Direitos reservados)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Pequenos degraus de uma enorme escadaria


Temos a vida repartida em momentos
os momentos imortalizados em fotografias
os sorrisos, as caras, os dias de outros dias
Olhamos e recordamos... ri-mos e choramos
As pessoas parecem estátuas
imóveis... eternas... ali!
Vamos buscar os álbuns das fotografias
em momentos doídos de melancolia
em busca do que já passou
Fotografias vivas das memórias entretanto esquecidas
fotografias com e sem cores
fotografias
Pequenos rectângulos das nossas vidas
das datas comemorativas
dos aniversários e dos natais
daquela prenda, daquela surpresa de uma amiga
perdemos já o contacto mas ali era nossa amiga
ali era a nossa prenda favorita
ali existiu e ainda existe mas só na fotografia
Temos a vida repartida por momentos
pequenos degraus de uma enorme escadaria
que vamos subindo com a esperança
de estarem repletos de novos e melhores dias!


Fotografia:
Copyright © Beata Czyzowska Young.
All rights reserved.

Parabéns "Nino" - NS



Gostaria de te dar o que não é já possível
os presentes são secundários
perderam já a importância
Queria poder dar-te o mesmo que queria para mim
mas isso seria bater no passado
e esquecer de dar ao futuro uma esperança
Assim dou-te o que sempre trocámos
Aquilo que mesmo com o fim nunca ficou acabado!
Ontem, hoje e amanhã estaremos sempre unidos
por
uma cumplicidade inesgotável
uma amizade invejável
e um cão senil!!



Fotografia por: Patrícia Manhão
(todos os Direitos reservados)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

O beijo


Tenho saudades do beijo
do beijo roubado
dado de lado
do que já foi desejado
Saudades do roçar ao de leve
de imaginar que era mais... que seria mais
das palavras trocadas
das fantasias imaginadas.
Tenho o beijo
e as saudades roubadas
Foi dado porque desejado
Rocei as emoções
e ao de leve imaginei...
Troquei as palavras
Imaginei as fantasias
E a beijar-te tornei!


Fotografia: The Kiss by Liquidtheorying
in http://liquidtheoryinc.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

...


não quero a eternidade... é tempo demais
não quero promessas... são sempre quebradas
não quero amarras... ferem-me os pulsos
não quero estradas... gosto dos caminhos
não quero o arrependimento... prefiro a coragem
não quero o desprendimento... prefiro a despedida
não quero o impensável... prefiro o mundo




Fotografia: 4781 by Whitestar
in http://whitestar98.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Over my shoulder


Vem e espreita-me por cima do ombro
experimenta! vem e vê o que eu vejo
tenta apanhar a minha perspectiva
mas não tentes viver a minha vida
Vem e encosta a tua cabeça no meu ombro
afasta um ou dois cabelos da tua frente
fazem comichão na cara e não te deixam ver bem
Vem e tenta ver o meu lado
tenta perceber como eu percebo
tenta ver o que eu vejo
e talvez isso mude alguma coisa
talvez nem seja preciso mudar
mas assim ficas a perceber-me melhor
Vem e esforça-te por compreender
porque só assim me irei esforçar por explicar.



Fotografia: Shoulder by Douceur amere
in http://douceur-amere.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

February has come


Porque por vezes é assim
sem se ter noção do porquê
sem perceber a razão
O tempo anda a correr
e nem sempre o conseguimos acompanhar
nem sempre sabemos como
Hoje sinto que o tempo passou por mim
passou sem eu ter dado conta
e Fevereiro já chegou
Talvez seja pelo frio que sinto
talvez seja por não sentir que vá haver Natal
talvez porque Dezembro começa a irritar-me
talvez porque queira apagar este mês do calendário
Quero que chegue Fevereiro
a ele se siga rapidamente o Março
e pelo meio que eu tenha descanso
e me esqueça de mim própria...

Fotografia: Tears of sadness by dontvy219
in http://dontvu219.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

C'est la vie


"Parece-me que anda tudo maluco"
A amiga acena que sim com a cabeça. É uma realidade e por ela o assunto teria morrido ali.
Há realidades que de tão verdadeiras que são não merecem mais discussão ou mais tempo debruçado sobre elas. A vida ensinou-lhe isso!
"Mas anda mesmo tudo louco!"
Não percebe o porquê da insistência. Volta a dizer que sim sem o chegar a dizer e dá mais um gole no copo de vinho. Com a descida da temperatura parece-lhe mais do que óbvio que se aumente a quantidade de vinho a ingerir. Mais uma das coisas que aprendeu com a vida.
"... até te digo mais, parece que andamos todos a viver uma vida que não é a nossa, aos trambolhões porque andamos com os sapatos que não nos pertencem, aos encontrões porque não nos habituamos ao corpo que nos foi emprestado!"
Ela olha para a amiga, volta a acenar com a cabeça e levantando o copo diz: "É mesmo assim a vida minha amiga!"
E encerrou ali o assunto. Para ficar deprimida já lhe bastava a vida.
A vida ensinou-lhe isso!


Fotografia: Madness by Dame Verte
in http://dameverte.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

Lado a lado


Iam lado a lado, não porque partilhassem o mesmo caminho mas porque aconteceu assim. Não se lembram sequer de ter iniciado o caminho juntos. De terem tomado uma decisão, de terem sequer pensado no assunto.
Iam lado a lado mas cada um a seguir o seu destino. Sem o saberem estavam a segui-lo... e que outra coisa é o destino se não isso mesmo?
De cada vez que pela dança própria do andar as suas mãos se tocavam quase que se assustavam, e só aí nesse momento, percebiam que iam lado a lado. Não porque o tivessem decidido. Mas porque a vida tem destas coisas e quem somos nós para pôr em causa as suas razões.
Várias bifurcações apareceram, passaram por vários cruzamentos mas continuavam a andar lado a lado na certeza que o caminho a seguir era sempre em frente. Por vezes paravam em simultâneo como se de repente o caminho lhes faltasse aos pés. Limitavam-se a respirar fundo. Nunca olharam para trás. Sabiam que nunca se deve lamentar pelo que se decidiu perder mas apenas ansiar pelo que de novo se pode ganhar. Restabelecidas as forças e com a mesma força de quem vai descobrir novos continentes começavam a andar como se tivessem sido empurrados.
Chegados ao fim do caminho (não porque este tivesse acabado mas porque sabiam que ali era o fim) deixaram-se ficar parados e com as palavras que o vento levou, antes mesmo de se poderem fazer ouvir, decidiram o caminho a fazer a seguir!


Fotografia: One step by Lucem
(Todos os Direitos reservados)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Violências...


Pára!
diz ela com uma voz que já nem conhece
As tuas palavras ferem-me
e as tuas mãos maltratam-me
Pára!
pede ela mas sem o enfrentar
Não me trates como se não existisse
não me digas o que pensar
não me olhes como se eu fosse menos
Pára!
diz ela já a fraquejar
As forças faltam-me já para lutar
e nem sei se te posso continuar a perdoar
Pára!
suplica ela já a chorar
... não sei se consigo continuar a calar


Pára!
pede ela já só com o olhar
ele não parou
e o dia seguinte não chegou para ela...
para ela o perdoar!


Fotografia: No exit by Lucem
in http://lucem.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Vazio


Sinto-me vazia
apática e sentida
sinto-me sem me sentir
toco-me sem me tocar
e o meu olhar perde-se
Apetecia-me só dormir
deixar-me apenas relaxar
deixar-me apenas ficar
Encontro-me no desencontro das palavras
no meio da discussão dos silêncios
e procuro-me sem saber o que procurar
Queria que as palavras surgissem
me ajudassem a desabafar
mas elas teimam em não chegar
E fico como quando me desencontrei
apática no olhar
e sem nada para contar!


Fotografia: Telling lies by glitterdarkstar
in http://glitterdarkstar.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Não deixes de vir...


Vem acalmar-me os meus medos
e bem devagarinho contar-te-ei os meus segredos
Vem devagar aconchegar-te a mim
e sem pressas dir-te-ei o que anseio
vem com a ânsia do encontro em ti
e juntos descobriremos o desejo!



Fotografia: Hugging you by Nuclear Seasons
in http://nuclearseasons.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

terça-feira, 27 de novembro de 2007

...


Ias a correr como quem está a fugir
a fugir como quem tenta não morrer
a morrer como quem já não consegue sentir
Ias sem sequer olhar para trás
para trás deixaste o que ficou
e o que ficou não volta mais
Ias com a pressa definida
definiste nos passos a coragem
e a coragem foi quem marcou a partida
Ias a correr e paraste
paraste para pensar na vida
na vida que desperdiçaste
Começaste a andar devagar
e com vagar saboreaste
o Passo que acabaste de dar


Fotografia: Shady running by Gilad
in http://gilad.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Pode ser?



e se eu adiasse o Natal só por um mês ou dois?
será que alguém se iria importar?
e se eu comprasse as prendas só depois?
será que alguém iria aceitar?!



Fotografia: Waiting for something I don't by holloweg
(Todos os Direitos reservados)

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Parabéns Kru

Há pessoas assim
que nos deixam estupefactas
Há pessoas que nos enchem
que nos preenchem
que nos satisfazem
Há pessoas que nos divertem
nos fazem chorar a rir
parece que estão ali só para nos divertir
Há pessoas que nos tocam
em que a sua dor é também a nossa
que nos fazem chorar
Há pessoas indispensáveis
que fazem parte da nossa vida
que são como se fossem da família
Há pessoas assim!
E o que dar a alguém assim?
Pensamos em dar o Mundo
mas depois é muito pesado
Pensamos no Universo
mas é infinito
Pensamos numa estrela
mas é muito brilhante
e ficamos de mãos a abanar
Hoje não te posso dar
nem mais nem menos do que te tenho dado
O meu apoio incondicional
o meu sorriso escancarado
E uma amizade que está aqui para durar!


Fotografia: Firnds forever by Exceptio
in http://exceptio.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

...


O meu coração é inconstante
por vezes insatisfeito
por vezes quase desfeito
Bate a ritmos desconhecidos
em arritmias constantes
Por vezes julgo que anda com pressa
bate tão depressa e tão forte
que chego mesmo a pensar que está atrasado
Tenta fazer o tempo andar para trás
apanhar os momentos que já passaram
guardá-los numa qualquer artéria
Outras vezes parece cansado
quase parado...
Cansado que anda do mesmo ritmo
vai oscilando nas batidas
e anda quase sempre descompassado.


Fotografia: Heart by Snul
in http://snul.deviantart.com/gallery/
(Todos os Direitos reservados)

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Spinning


Entram sem pedir licença a ninguém.
Ainda não sei se será uma questão de falta de educação
às vezes parece-me que bastava ter um bocado de cuidado
Entram de rompante, insinuam-se flagrantemente e depois instalam-se
Fazem disto um modo de vida, uma forma de estar
Empurram tudo e metem-se à frente como se tivessem esse direito desde a nascença
Brincam connosco, confundem-nos e depois evaporam-se
Quando lhes apetece voltam a aparecer
Não que tenham sido chamados
Mas acham mesmo que são tidos e achados
Por vezes gostava que parassem
ou que pedissem licença
com um pouco de cuidado, um pouco de delicadeza
qualquer coisa do género
"Somos Pensamentos, será que podíamos entrar só por um momento na sua cabeça?"

Fotografia: Nine by Nasht-01
in http://nasht-01.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

Dancing Queen


Gosto imenso de ouvir música
de a deixar entrar dentro de mim
ganhar o seu próprio espaço
de a acompanhar... e de mãos dadas pomo-nos a dançar
Dançamos as tristezas e as alegrias
as mesmas de todos os dias
Dançamos os sonhos e as fantasias
suamos pelo ritmo da vida.


Fotografia: Dancing Queen de Anorexiax
in http://anorexiax.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Impotência


Há um texto dentro de mim pronto a sair
uma ideia que se começa a formar
fecho os olhos e as letras juntam-se
aleatoriamente vão formando mil e uma palavras
mas o texto não sai
Por vezes acordo a meio da noite
sento-me na cama
e vêm-me à memória resquícios de textos pensados
... que ainda não escrevi
que estava a formar
Nunca os conseguirei reproduzir
é pena! Esses são sempre os meus melhores textos!
Sinto-me a fervilhar
as palavras a quererem saltar
frases que se querem encarrilar
um sentido que se quer fazer voz
que se quer emancipar
Sinto essa explosão de ideias e nada sai
pouso os dedos no teclado e eles não sabem o caminho a seguir
não sabem por onde começar
Talvez comece como todas as histórias começam
e depois logo se vê...
"Era uma vez...
era uma vez um texto que se queria ver escrito
uma mensagem que queria ser passada
um sentido que até tinha o seu sentido
e umas mãos que se sentiram baralhadas"

Fotografia: Sense of emergency by Denis Olivier
in http://denisolivier.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Curiosidades


Não... não faço por mal
Mas tens que compreender
há um mundo inteiro lá fora
e eu estou desejosa de o conhecer
Não... não faço por mal
é assim que eu conheço as coisas
só assim consigo aprender
Tenho mesmo que mexer,
tenho que espreitar
tenho que perguntar
Não... não faço por mal
por vezes as coisas escorregam-me das mãos
pergunto o que não devo
e digo coisas disparatadas
eu só queria ter graça...
entrar nas vossas conversas
Não... não faço por mal
mas há uma infinidade de coisas para aprender
e eu só conto contigo para me as ensinares!


Fotografia: Curiosity by Nasht1
in http://nasht-01.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

Violinos


Entre a solidão e o vazio… venha o vazio, venha apenas a ausência de espaços e de conteúdos mas nunca a ausência de pessoas e de pensamentos, venha a ausência de mobília numa casa pintada de fresco mas nunca a ausência dos objectivos de como mobilá-la ou de com quem partilhá-la, venha o vazio mas nunca a solidão.
Entre a solidão e o vazio… venha o vazio que é sempre passível de ser preenchido, que tem paredes e muros em volta que sempre implicam um espaço que, de algum modo, nos abraça e nos envolve. A solidão implica em si mesma a ausência dos muros e das paredes, implica a inexistência do espaço e, pior ainda, a ausência dos abraços.
A solidão por não ser física e por não ter um corpo, vale o que vale, vale a dor e o sofrimento, vale a ausência do que poderia estar presente. A solidão é o gemer das cordas de um violino, é o ouvir do arco a acariciar as cordas, é ouvir o ofegar do violinista. A solidão é darmos vida e voz a um violino e não termos com quem partilhar esse milagre supremo que é a música, não termos com quem chorar essas notas. Chorar ao ouvir um violino a tocar é unirmo-nos num campo metafísico à essência musical, é oferecer as nossas lágrimas como presente, é sofrer gratuitamente porque a melodia que daquele instrumento emana nos abraça, nos magoa, nos dá vida. Essas sempre foram as minhas melhores lágrimas, as mais puras e inocentes, as que insistem em lembrar-me que uma nota perfeita na terceira posição do violino é vida!
Melhor do que o uivar do vento, do que o som das ondas a rebentar, é, sem dúvida, o som de um violino. Nunca vos deu a sensação de que ele estava a falar com vocês? Nunca vos pareceu que estava a pedir-vos socorro? A gemer de dor apenas para que vocês o afagassem, o acarinhassem? Então já sabem o que é a solidão! Porque a solidão é isso mesmo, é ouvirem um violino a gemer, é ele gemer dentro de nós, gritar por socorro dentro de nós… se há alma ou uma consciência interior então ela é esse violino, essa forma suprema de vida. A solidão é o não conseguirmos responder a esse apelo que é feito por nós próprios a nós próprios.

06/07/2004

(Peço desculpa por estar a meter aqui um texto meu já antigo... mas à falta de inspiração...)

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Arritmias


Nem sempre o ritmo é o que desejamos
parece mesmo que nunca é o certo
nas arritmias que nos acompanham
nos silêncios entre impulsos
eu observo
limito-me a observar
Vou observando os ritmos alheios
passando a seu lado
não olharia para eles por outro motivo qualquer
e nem eles reparariam em mim
vou vendo os ritmos a que se regem
olhando para onde olham
dois estranhos em mundos paralelos
em pontos extremos da mesma linha
sem um único ponto em comum
Vejo o seu cansaço,
as rugas das horas que passam
a pressa de chegar
para depois voltar a sair
A repetição dos dias sempre iguais
amanhã à mesma hora volto a observá-los
eu na janela do comboio
e eles sentados no cais.

Fotografia: Waht if bt Raun
in http://raun.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Simmm???


E se eu te pedisse?
Se te pedisse com jeitinho
muito devagarinho?
E se eu te desse uma razão?
podia sempre inventar uma...
não tenho motivos
mas que me apetecia, apetecia...
E se em troca te der um sorriso?
um piscar de olho meio retorcido
ou uma língua a sair da boca?
armada em menina marota
E se eu te dissesse
que era uma questão de morte ou de vida?
Deixavas-me tirar-te uma fotografia?

Fotografia: Integrate XI by Mehmeturgut
in http://mehmeturgut.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

...


Não consigo precisar os momentos exactos
as ligações, a cumplicidade
Não consigo dizer que foi por isto ou por outra coisa qualquer
se foi dos anos passados em comum
se foi da infância partilhada
das brincadeiras ou das discussões
dos presentes inesperados
das saídas forçadas
Não sei explicar o porquê
de olhar para ti e sentir-me a crescer
de ter orgulho em tudo o que fazes
de seres como eu gostaria de ser
Nunca te consegui explicar
que se sempre vivi na tua sombra
não é porque seja menos
mas porque sempre foste o meu Sol
Não consigo precisar
mas também não é preciso explicar
Ama-se porque se ama
e amo-te assim desde criança!

Fotografia: Ghost Opera 24 by Denis Olivier
http://denisolivier.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Infinito


Agrada-me a ideia de Infinito
agrada-me pensar que pode haver algo que perpetua no tempo
que deixa a sua marca no espaço
e que se mantém
que se fixa
Agrada-me a ideia do "para sempre"
não a do "até que a morte nos separe"
nessa não acredito
Mas sim a ideia de que não muda
aliás que muda mas que fica
que não se silencia ao mesmo tempo que não se ouve
que está lá
que está aqui
que ficou
Julgo que é esse o fascínio pelas estátuas
pelos castelos
pelas ruínas
Para mim são as paisagens vazias de conteúdos
ainda sem edifícios plantados
sem centros-comerciais cultivados
Um ponto lá ao fundo
uma árvore
uma casa
uma pedra
e à volta o silêncio já perdido


Fotografia: Endlessly by Denis Olivier
in http://denisolivier.deviantart.com/
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terça-feira, 6 de novembro de 2007

Em bicos de pé...



Como numa dança
aproximo-me em bicos de pés
pés descalços sobre o mármore frio
gosto de sentir o frio nos pés
gosto de os sentir quase a gelar
... depois aqueço-os nos teus
queixas-te que estão frios
mas enroscas os teus pés nos meus
como numa dança...
Aproximo-me em bicos de pés
para não acordar o silêncio que reina
para não quebrar a sonolência dos gestos
para não perturbar os sonhos sonhados
Aproximo-me em bicos de pés
o calcanhar erguido no ar
os braços abertos pronta a rodopiar
e com um sorriso deixo-me cair
Como numa dança aproximo-me
e sem que se faça convite
começamos os dois a dançar...

Fotografia: Dancing figures by NuclearSeasons
http://nuclearseasons.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

words...



Não é que esteja triste
não é que o seja
mas sou mesmo assim
aqui sou assim
quando escrevo sou assim!
Se escrevo sobre os passos
é porque me custa a caminhar
Se escrevo sobre labirintos
é porque sinto que ainda não encontrei o caminho
Se digo que tenho frio
é porque o calor em mim reduziu
Se falo de um reflexo que já não reconheço
é porque me olhei ao espelho
de uma calma que sinto que perdi
é porque me irritei
de algo de estranho em mim
é porque ainda não me encontrei.
Aqui é onde eu sou assim
onde penso
onde escrevo
onde debito palavras no papel
nem sempre as minhas
nem sempre sentidas ou reais
Mas...
sou as palavras que escrevo
e sempre que o faço
elas tornam-se parte de mim!


Fotografia: Sadness by Plangdon2
(Todos os Direitos reservados)

Tempo, tempo, tempo...


Esfriou
O tempo esfriou
De repente o clima muda sem avisar
diz-nos apenas um nome de um mês
e a partir dele temos que adivinhar
Vai estar calor,
vai estar frio
Mas agora o tempo esfriou e eu sinto-me com frio
estou a tremer
mas isso não tem nada a ver...
é de medo... não é do frio
sinto-me a enregelar
mas também não tem a ver com o Novembro
esse ainda nem chegou
Esfriou
não sei se é do tempo
mas sinto-me a esfriar...

Fotografia: Fresh and cosy by Christophe Niel
http://christophe-niel.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Vem...




Vem e diz-me que está tudo bem
mente-me se for preciso
Finge se necessário for
Vem e acalma-me os soluços
seca-me as lágrimas
apazigua-me a alma
Vem fazer planos
traçar rumos
escolher as cores
Vem e senta-te ao meu lado
encostas o teu ombro ao meu
e ficamos assim lado a lado
Não vás à frente
não te posso seguir
E se ficares para trás
não posso esperar
Vem e diz-me que está tudo bem
mente-me se for preciso
Finge se necessário for
mas não deixes de vir!


Fotografia: Follow me by Miskin83
http://miskin83.deviantart.com/
(Todos os Direitos reservados)

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Ghosts


"Claro que não acredito em fantasmas!"
Ela afirma-o com a mesma certeza de sempre
chega mesmo a dar um risinho, encolhe os ombros e revira os braços
arremata com um
"Que disparate! Fantasmas..."
À noite no seu quarto a certeza deixa de estar de um lado
passa para o outro
sente aquelas presenças ali ao seu lado
por vezes chega mesmo a vê-las na sua indefinição
treme por dentro e esconde-se debaixo dos lençóis
Desde criança que convive com estas visitas
Que as sente. Que treme. Que receia.
Ultimamente deixou de pensar que era invenção sua
partidas pregadas pela sua imaginação
o seu gato pressentiu-os também
e quase que rosnava como se um cão fosse
ela limitava-se a repetir para si mesma
"Não tenhas medo! Não tenhas medo!"
O cansaço venceu-a mais uma vez e com ou sem companhia
deixou-se adormecer
De manhã ao acordar olha para o bicho
ambos trocam olhares cúmplices
À tarde ela volta a encolher os ombros
a risada desta vez mais forte
e a afirmação
"Claro que não acredito em fantasmas! Que disparate!"
e a esperança de nessa noite ter a casa menos povoada.

Fotografia: Sleeping with ghosts by muratsuyur
in http://muratsuyur.deviantart.com/
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quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Sinto-me...



Faz-me falta a pausa para o café
o cigarro meio-fumado, meio-a-arder
Fazem-me falta os dias bons e calmos
os dias de loucura
Faz-me falta o yoga e a meditação
a paz de espírito... do meu
Sinto-me irritada, invejosa e egoísta
sinto-me como a parte queimada de um bolo
o arroz que se colou ao tacho
Como um copo de água sinto-me a transbordar
e quando olho para dentro percebo que estou vazia
Faz-me falta a calma de outros dias
onde era capaz de sorrir logo pela manhã
Faz-me falta a minha serenidade
sinto-me suja pelos outros
conspurcada pela sua miserabilidade
Eu não sou isto!
Sinto a falta de mim!

Fotografia: Dance with us by Incredi
in http://incredi.deviantart.com
(Todos os Direitos Reservados)

As Horas


A hora vai mudar
Todos os anos muda logo a surpresa não deveria ser grande
Nas horas que são as nossas vamos deixando os ponteiros avançar
alturas há em que param
outras há ainda em que temos que os fazer avançar
Mas a verdade é que seja qual for o caso
as Horas não param
os dias sucedem-se
do horário de Inverno passamos para o de Verão
e cada vez mais parece-me que saímos de uma praia directamente para a árvore de Natal
que mal acabamos de saborear um gelado já estamos com as mãos enfiadas na massa para fazer as filhoses de Natal
Lisboa já está enfeitada e já só falta acenderem as luzes
As Horas essas ninguém as apaga
ninguém as pára
e elas continuam a passar
sempre
ad eternum

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

...


Da janela do meu quarto outros mil quartos se levantam no horizonte
outras mil vidas se entre-cruzam com outras mil
e todos os dias assistimos em conjunto ao começo de um novo dia!

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Finish line


Por vezes é inevitável
A sensação de que a meta de chegada distancia-se a cada passo!
Vamos andando, no caminho que é o nosso
Vamos oscilando ora entre passadas largas
ora entre passos pequenos
por vezes paramos para observar o que está em redor
outras vezes caminhamos sem pensar em mais nada
um passo à frente do outro
e a cabeça cheia de nada
e o pensamento vazio de rumos definidos
Por vezes é inevitável
não percebemos porque é que agora parece mais longe
não percebemos como já nos pareceu estar mais perto
mas a verdade é que parece inatingível
Agora percebo
agora percebo aqueles que desistem
os que se atiram ao chão
ou que simplesmente voltam para trás
Uma tamanha distância é difícil de percorrer
e por vezes a vontade de ganhar não é tanta como a de perder!

Fotografia: Corridori by mrpitone
(Todos os Direitos reservados)

The Lovers


"Some people hate them, you know. Lovers. Nothing drives them madder than to see two people kissing. Love's an affront. You ever thought about that? Love's an emotion so charged and pure that it can attract a pure and charged hatred. That's why I don't think lovers should love in public. Some people have murder in their eyes when they see lovers, but somewhere out there is a person so disappointed with their life, so full of self-contempt, they're carrying murder in their pocket. A gun to blow away lips that were blowing kisses. (Imitates a gun) Pyeach! Pyeach! 'Put that tongue back in your mouth, lover!' Pyeach! Pyeach! 'Put them arms down by your sides, lover!' Pyeach! Pyeach! 'Wipe that shine from your eyes, lover! Who gave you the right to be happy when I'm not?' Pyeach! Pyeach! So drink up, lovers. Here you can hold hands, gaze at each other, touch and blow kisses. In my restaurant you're safe. Drink!"

Arnold Wesker, Lady Othello (1987)

Ilustração: The Lovers By Magritte
(Todos os Direitos reservados)