quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Holding hands


Não foi por maldade, aconteceu.
De mansinho estiquei-te a mão
ainda mais devagarinho a apertei
Com a languidez das horas que derretem
vou também eu me sentindo a derreter
e já nem sei se foste tu
e já nem sei se fui eu
Só sei que algum de nós deixou de apertar
que as mãos deixaram de se tocar
e de mansinho deixámos de acreditar.


Fotografia: Holding hands by Amanda
(Todos os Direitos reservados)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

...


Vamos brincar! Tu finges que disparas! E eu finjo que expludo!




Ilustração: Shoot you by Galia
(todos os Direitos reservados)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Novos dias


Aos poucos o calor retorna ao meu corpo
a luz retorna da penumbra
e o sol retorna aos meus dias
Somos seres ambientais, seres de humores e de climas
vem o nevoeiro e sentimo-nos perdidos
vem a chuva e tornamo-nos sombrios
chega o sol e já conseguimos desfrutar da alegria
Venham. Venham os raios mais quentes
venham os dias mais longos
venham as roupas mais leves
Venham novos dias!

Fotografia: Shy by Apri1
(Todos os Direitos reservados)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Faz-me acreditar!


Vem!
Vem ensinar-me a pintar o mundo com novas cores
a desenhar as esperanças de todos os dias
a descobrir a beleza das cores chamadas de alegres
e o conforto das que são mais sombrias
Vem!
Vem dizer-me que vale a pena,
que posso continuar a lutar!

Vem!
Vem encorajar-me a percorrer os caminhos para os quais já não tenho forças
vem fazer-me acreditar que posso sempre voar!


Fotografia: A touch of Crayon by Gilad Benari
(Todos os Direitos Reservados)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Sem pressas


Sem pressas arruma o que que durante anos levou a arrumar. Os mesmos gestos a ocorrerem nos mesmos lugares. As mesmas mãos que pegam, que limpam, que esfregam. As mesmas feridas de sempre.
No pensamento o vazio de quem não pensa. De quem já percebeu que não vale a pena pensar.
Os sonhos eram os de menina e esses rapidamente deixaram de ser sonhos para serem utopias. De utopias passaram a vazios. Mais um que lhe enche a cabeça de coisa nenhuma.
Sem pressas e com os passos decorados no pavimento do chão desvia-se dos móveis que sempre decoraram a sua vida. Um bom dote para a altura. Uma cruz para toda a vida. Desvia-se deles com a sensibilidade dos gatos mas nem os olha. Conhece de cor a posição que ocupam na sua cela. Esta casa que é a de alguém mas onde ela se sente presa.
Sem pressas e com as feridas de sempre senta-se hirta no sofá. Não ousa encostar-se. Não ousa descansar. Não ousa...
Sem pressas vai esperando que a vida lhe traga apenas uma surpresa. Apenas uma novidade. Apenas uma porta aberta.
Sem pressas continua a esperar.

Fotografia: s/título de Yuri Bonder
(Todos os Direitos reservados)

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Gosti


Queria deixar-te uma palavra de apreço, um miminho...
Com carinho passar-te a mão pelo rosto
e devagarinho fazer-te sentir feliz
Queria tornar tua a minha dor
tirar o peso mesmo que só por um bocadinho
tomar nas minhas pernas o cansaço dos teus dias
e nos teus braços depositar pequenas alegrias
Gostaria de saber que mais posso dizer
de que outros modos te posso sorrir
para que consigas isto tudo sentir
para que possas sentir-te a re-nascer!

Fotografia Clouds by Aiae
(Todos os Direitos reservados)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Não queria!


Não quero! gritou ela
Não quero ver-te assim, a definhar, a anulares-te, a não seres
Não quero! gritou ela de punhos cerrados e rosto vermelho
Enerva-me a tua estagnação, irrita-me a tua irritabilidade, irrita-me o irritares-me
Não quero! disse ela com as lágrimas já secas
Tu não te estás a ir abaixo, estás a afundar-te!
Atiraste com os remos e recusas-te a mexer
Não quero!
deixou ela escapar entre dentes num murmúrio próprio de quem perdeu já as forças
Não quero continuar a ver-te sem Te ver, a ouvir-te sem Te ouvir
Não quero sentir que já não sentes
Não quero perceber que já não nos entendemos
Não quero!
Pura e simplesmente não quero!
...
não queria...



Fotografia: Out of the rain by Glitterdarkstar
(Todos os Direitos reservados)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Vamos brincar?


Não faço ideia do que seja, dizia ele constantemente. É que não faço mesmo ideia.
Os papeis ia-os rodando como se de um mapa se tratasse.
Eu ainda pensei que fosse mesmo um mapa pois via-se que estava perdido.

Volta não volta pegava na embalagem. Mudava de posição. Coçava as pernas. E voltava a pegar nos papeis.
Eu ia imitando. Pelo menos a parte do mudar de posição. Pelo menos a parte do coçar as pernas, que isto de estar sentado no chão deixa as pernas dormentes.
E estava ali, sentado, à espera.
Novamente os papeis a rodarem. Eu ainda pensei que as letras fossem rodando ao mesmo tempo, que isto de ler de pernas para o ar parece-me ainda mais complicado do que ler a direito. Mas o meu pai sabe tudo por isso para ele deve ser fácil.
Ficámos ali o que me pareceram horas (e pelo ar de chateado da mãe devem ter sido séculos).
Finalmente descobriu o que eu já tinha descoberto há muito (mas não sabia que era isso que ele estava a procurar senão juro que já lhe tinha dito, mas juro mesmo!). O meu pai descobriu que aquela embalagem era só um brinquedo. Um brinquedo normal, sem pilhas, sem botões, que não se mexe, que não se comanda. Onde temos que usar a imaginação e irmos construindo um mundo inteiro de possibilidades. Não havia ciência nenhuma... era só brincar.
Sorri encantado da vida porque agora sim ia começar a brincadeira a sério.
Meti-me de joelhos e olhei para ele ansioso.
Ele atirou os papeis para a caixa e levantou-se.

Acho que se desinteressou do brinquedo...



Fotografia: Legos by Sonicyouth
(Todos os Direitos reservados)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Confesso


Confesso
confesso que passei mais de metade da minha vida
perdida... a culpar os outros
não sou eu que não presto
são vocês
não sou eu que sou antipática
são vocês que não merecem a minha simpatia
não sou eu a incompetente
vocês é que não se fazem entender
não sou eu a gorda
vocês é que são esqueléticas
não sou eu a magra
vocês é que são obesos
Confesso
confesso que nem sempre gosto da minha vida
confesso também que a vivo despercebida
que não luto, que me limito aos limites
que não sou audaz
sinto que muitas vezes não sou capaz
Confesso
confesso que as lutas são as minhas
e que o adversário sou eu
nestas lutas sou sempre vencedora
sou sempre vencida
sou sempre a que sofro
Confesso
confesso que nem sempre me apetece falar
não me apetece brincar ou rir
não me apetece fingir
e que se pudesse ficaria mesmo a hibernar
Confesso
confesso que a vida que estou a viver
é somente a que eu escolhi!


Fotografia: After the Storm by Correiae
(Todos os Direitos reservados)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Carinhosamente...


Fiz-te as malas e meti-as à porta
não do lado de fora mas do lado de dentro
o que se passa aqui só a nós nos diz respeito
Sempre concordámos nisto
nunca fomos de discussões ou de berros
de insultos ou de pancadas
conversávamos calmamente sobre as coisas
não discutíamos chegávamos a conclusões
Mas hoje fiz-te as malas
Não te perguntei
não conversámos
já há algum tempo que não o fazemos
a economia das palavras assim o exigia
a falta de assunto assim o comandava
Por vezes na solidão que foi por mim escolhida
ficava a perguntar-me se teríamos tomado a decisão correcta
se não deveríamos ter gritado mais
se uma ou outra discussão não teriam feito a diferença
Dobrei carinhosamente a tua roupa
com o mesmo carinho com que a tirei das malas
quando começámos a viver juntos
com o mesmo sorriso no rosto
com a mesma felicidade
Exactamente com a mesma esperança no Futuro!



Fotografia: Evacuation by Taf-like-woah
(Todos os Direitos reservados)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

(P)-(Re)-soluções


Não tenho resoluções para o ano novo.
A verdade seja dita, sempre me irritaram as passas e os desejos
doze não é? por cada badalada? por cada mês? por cada nada...
Não tenho resoluções...
ter até tenho mas não são resoluções
são soluções!
São a resposta óbvia para problemas
"Se tens uma dor de cabeça toma uma aspirina!"
as minhas soluções são deste tipo.
básicas.
óbvias.
(muitas vezes) tardias.
Mas são!
As resoluções sempre tiveram ar de ser e não ser
eu quase que lhes chamaria pre-soluções
quase que são... deveriam ser... mas não são!
Este ano vou fazer greve às resoluções
Vão ser tratadas como se de cigarros se tratassem
ficam à porta dos estabelecimentos públicos ou privados
arejados ou sufocados
à porta
Quem entra são as soluções
de pulmões limpos e luzidios
orgulhosas de não estarem limitadas às entradas
prontas para fazerem o que vieram fazer
Solucionar os problemas que possa vir a ter!



Fotografia: Claire de lune by Pedro Inácio
in http://pedroinacio.deviantart.com/
(Todos os Direitos Reservados)