sexta-feira, 28 de setembro de 2007

...


As dúvidas perseguem-nos ao mesmo tempo que temos as certezas mais inabaláveis sobre questões tão efémeras quanto as suas respostas
Se eu me questiono? perguntas tu
Claro que sim! respondo eu
Como poderei ter a certeza sem antes me questionar?
Como posso saber o que quero
que o quero assim, deste modo
se antes não tiver feito a imaginação voar em outras possibilidades?
Se vacilo? pergunto-te eu
Claro que sim! respondes-me tu
As mudanças são difíceis
e o conformismo por vezes basta-nos
Idealizamos mil futuros mas só temos aquele que nos pertence, o que construímos
Não sei se valerá a pena e mesmo que valha não sei se terei as forças
E agora? perguntamo-nos
Continuamos a ser perseguidos pelas certezas efémeras repletas de dúvidas inabaláveis em questões que nunca terão resposta.

Fotografia: Bench by Denis Olivier
(Todos os Direitos reservados)

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

...


E se eu me perder na brancura dos dias
virás à minha procura?
E se na imensidão dos campos eu for perdendo a razão,
virás ajudar-me a pensar?
E se ao longo do tempo começares a sentir os dias longos
tentas mo explicar em vez de me culpares?
E se na repetição das horas perdermos a visão dos minutos?
sussurras-me ao ouvido o passar dos segundos?


Fotografia: The Shinx by Pedro Inácio
(Todos os Direitos reservados)

N.A.
Já Publiquei este texto no Kruela, mas sendo um dos meus favoritos faço questão que esteja aqui! Desculpem a repetição... esta não é o Inferno mas persegue-me!

A repetição é o Inferno


A repetição é o Inferno
Esta frase vem de um dos mitos gregos ou romanos já nem sei bem
lembro-me apenas que o dei na faculdade e para variar a minha memória não me permite ir para além disso
As últimas semanas têm sido para mim o Inferno
Há coisas na minha vida que se repetem ad eternum
decisões que não tomo
palavras que adio no espaço e no tempo
Acções que deveriam ser tomadas e que eu recuso-me a encará-las
mas nestas últimas semanas nada disso faz sentido sequer
porque o meu inferno tem sido a repetição
Dia após dia acordo com a ansia que esse dia seja melhor
que me consiga mexer, que não tenha dores, quiçá dançar um bocadinho com o meu canito
Nada disso... as dores que me assolam são atrozes
e a repetição destes dias repletos de dores têm sido o meu inferno
Por isso desculpem a minha ausência
a minha falta de imaginação
a inexistência de inspiração
Estou presa ao meu próprio Inferno
que se tem vindo a repetir dia após dia
como alguém que eu não me lembro escreveu um dia!

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Percalços...


Vou a coxear pelos caminhos
dizia eu
a dor chega mesmo a ser insuportável
diria até incomensurável
mas não me quero fazer de vitima
Ando devagar e quase não se ouvem os meus passos
e a perspectiva de futuro assusta assim como este coxear já me cansa
Não é da idade, não pode ser da idade
O cansaço faz-nos por vezes coxear, vacilar, mas não é isso
Também não é o medo de encontrar percalços que me hão-de fazer tremer e eventualmente levar um joelhinho ao chão
e mesmo que o levasse... as feridas acabam por sarar
Vou a coxear pelos caminhos
dizia eu
e a dor obriga-me mesmo a parar
Mas só por hoje...
Amanhã já voltarei a andar!

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Cores em movimento...


"Só não gosto muito das cores" diz ele com a mão a agarrar o queixo como se tivesse medo que este fosse fugir do rosto e com um olhar a dar ares de enorme sapiência continua... "São muito vivas e isso traz ao quadro uma ideia de..."
Ela já não o ouviu mais. Ficou fixada no facto de as cores serem vivas.
Não apenas vivas mas muito vivas!

Sorriu enquanto a sua imaginação deixava que as mesmas cores daquele quadro começassem a dançar uma valsa electrizante. De repente o quadro ganhava, perante os seus olhos fechados, uma nova vida resultante da vida que emanava das próprias cores! Estas deixaram de ser algo inerte para se movimentarem livremente na tela... o quadro era um novo quadro a cada segundo que passava!

Quando reabriu os olhos ele continuava a divagar sobre o quadro!

Ela optou por não ouvi-lo mais e deixou que o quadro divagasse sobre ele mesmo...

Quadro: Shimmering by Pollock

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Silêncios...


Há palavras que me fazem falta
dizia ela quase em sussurro
Não precisam de ser as certas
insistia ela como que a convencer-se disso mesmo

Há palavras que preciso de ouvir
de as ver escritas
(já não falo das que escrevo - pensou ela timidamente)
As tuas fazem-me falta... preenchem os silêncios!
Percebes?
Ele não respondeu...
Ela não chegou a perceber se ele percebeu!
Provavelmente não compreendeu ainda o vazio que o silêncio lhe provoca
que ele é também motivador para outras palavras
que é óbvio que ninguém entende as coisas da mesma maneira
Mas para ela era claro como a água que esta era a altura de ser egoísta
Ela não quer o silêncio das palavras não escritas
das palavras por inscrever
precisa disso
e ele parece não querer entender
Há palavras que nos fazem falta
e nem sempre precisam de ser as certas
apenas precisam de ser!

Raves malditas


Era uma vez duas hérnias discais!
Meninas pequeninas e patuscas que gostam de andar a brincar
brincam, incham, esticam!
isso é que é vê-las todas contentes a dar cabo da cabeça à coluna vertebral e aos músculos adjacentes
Como achavam que dois era um número muito solitário decidiram convidar o nervo ciático para se juntar à brincadeira
Party Time!!! Digo-vos que é só raves!!!! As sinapses andam malucas e já nem sabem o que fazer com tanta informação de desconforto e dor a ser levada para o cérebro!
Eu não me importo de ver os outros a divertirem-se! Bem pelo contrário! Mas isso acontecer dentro do meu próprio corpo já não é uma coisa que me agrade por ir aí além! Até porque, todo este frenesim só acontece dentro porque fora é uma inércia enorme!
Passo a explicar:
Exactamente porque aquelas três criaturas andam a ter o Time of their lifes, a menina mal se mexe! Já não me bastava ter uma perna apanhada agora já começam a ser as duas! Lavar a cara de manhã é uma aventura (sim porque temos que nos baixar sobre o lavatório para lavar a dita), e nem vos digo a emoção que é vestir as calças! A minha sorte é que os meus ténis são de enfiar e não têm atacadores senão lá vinha eu com eles desapertados o caminho todo!
Mas parece que a vida é mesmo assim... para uns se divertirem outros têm que ficar quietinhos!!!
Será que eles ficam chateados se eu lhes perguntar quando é a minha vez???
Também quero!!!

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Arrastando o seu cadáver





"É demencial Não há palavras que consigam dizer o horror
Vi um pobre homem agarrado ao que restava da sua mulher
Errando pela baixa
Os olhos fixos num horizonte perdido
Sem uma palavra Sem um som
Arrastando a carcassa desfigurada por entre o trânsito do fim da tarde
Passei sem conseguir dizer nada

Ninguém dizia nada
O silêncio
Acompanhava o olhar vazio
A dor

A vaguear por entre as ruínas e o trânsito do fim da tarde
As pessoas apressavam-se por causa do cair da noite
E o pobre homem seguia um destino sem rumo
Arrastando o seu cadáver

E o pobre homem
Seguia um destino sem rumo
Arrastando o seu cadáver

Ninguém dizia nada
O silêncio
Acompanhava o olhar vazio
A dor"

Mão Morta, Arrastando o seu cadáver

(Obrigada NS por me teres 'ensinado' a gostar desta banda!!! :) )

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Trapezistas....


Eu sei porque hesitas
tens medo que a corda se quebre
que não seja forte o suficiente
que não aguente com o peso
Percebo a tua hesitação
a vara é já pesada demais
e carregas nos braços o peso da vida vivida
Já ergueste muito, já fortaleceste muros
Nas mãos trazes os calos do trabalho de uma vida
os pensos que tapam as feridas
Percebo que dês um passo atrás
embora não tenhas já vertigens
é arriscado andares assim sem rede
há sempre o risco da queda sofrida
Eu sei porque hesitas
há momentos em que também eu ganho medo das alturas!

Observações (1)


Porque às vezes sabe bem ficar apenas a observar sem nada dizer...

Vieira da Silva, Luz (1978)
óleo sobre tela, 97 x 130cm, França, col. part.
(Todos os Direitos Reservados)

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Estranho-me...


Há dias em que acordo e em que parece que há algo de errado... o meu corpo não parece ser mais meu. Parece que desaprendi os passos e que já não sei mais caminhar. O rosto apresenta-se-me desfigurado ao espelho e caio mesmo na tentação de perguntar "Quem a convidou a entrar na minha casa?". Há dias em que não sei onde colocar os braços... parecem-me longos de mais, e os pés que enfio nos sapatos não parecem mais ser os meus. Nestes dias não penso... tento não pensar. Sinto sempre que estou a entrar na intimidade de alguém, a violar o espaço de outro, a pensar pensamentos que não são os meus. Nas conversas fico atónita sem entender uma palavra do que me dizem... estão a falar uma língua que eu não conheço... deixo-me estar. Há dias em que tudo parece virado do avesso e por pouco vejo todos os meus órgãos de fora e a pele virada para dentro como que a desafiar as leis da Natureza. Há dias em que pura e simplesmente não me apetecia mesmo acordar...

Fotografia: And she sleeps by Cweeks
(Todos os Direitos reservados)

Passos...

Passadas curtas
passadas largas
o importante mesmo é andar
e nem sempre é o chegar
mas com quem se chega
E nem é com quem se chega
é com quem se partilha o caminho
E nem é com quem se partilha
mas se todo esse processo faz sentido
Há dias em que não vemos o caminho
em que não vemos o sentido
e em que parece que não temos com quem partilhar
em que nem nos apetece andar
...
Passadas curtas
passadas largas
o importante mesmo é nunca parar!


Fotografia: fading Away by Gilad
(todos os Direitos reservados)

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Danças...


Apetece-me dançar
dançar de pés descalços
e saia rodada
Apetece-me rodopiar
fechar o olhos e deixar-me ir
Apetece-me saborear o movimento do meu corpo
sentir no rosto o vento
e continuar simplesmente a sorrir
Apetece-me ver as crianças numa roda a brincar
a baterem palmas e a cantar
Será que posso escolher as cores?
laranjas, vermelhos e castanhos
Fatos coloridos em rostos pelo sol queimados
o cheiro a mar ao fundo
e a terra com cor de argila
tudo envolto numa momentânea harmonia!

Trrim-Trrim


Se há publicidade que me irrita desalmadamente é a da TvCabo.
As três meninas todas perfeitinhas e de curvas salientes, com os cabelinhos todos arranjados ainda vá que não vá... mas as três em uníssono a dizer Trrim-Trrim com cara de Madre Teresa de Calcutá é que não dá com nada!
A vontade que me dá é de lhes pegar pelos cabelos e bater com a cabeça delas no lancil do passeio até saltarem as pedras da calçada.
É que são mesmo irritantes!!
Será que a TvCabo está assim com um excesso de clientela feminina tão grande que quer perder clientes????

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

...

Ainda tenho um lugar vago...
De certeza que não te queres sentar?
Ainda há uma cadeira vazia...
podíamos partilhar uma bebida e se gostasses... porque não o resto da vida?...
Ainda tenho um lugar vago
Palavras para serem trocadas
fotografias para serem tiradas
lugares para serem visitados
Ainda há um lugar disponível...
De certeza que não queres embarcar?

Fotografia: Water drops on quiet table by Cweeks
(Todos os direitos reservados)

Serenidade


Cresci
sinto que cresci, que amadureci, que cheguei mesmo a mudar
Não é o Bilhete de Identidade
Apenas cresci!
Sinto que mudei,
que me tornei mais segura
diria até mesmo mais madura
mas não pode ser porque continuo a ser infantil!
Não, não sou infantil
apenas mantenho o meu lado de menina pequenina
tento ainda guardar uma réstia de ingenuidade
e de com ela saborear um bocado mais da vida!

Fotografia: Finding Serenity by gilad
(Todos os Direitos reservados)

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Hesitações...


Agora que tenho 'nova' casa deparo-me com o terror que é encarar paredes vazias, quartos por preencher, mobília para comprar!
O mesmo aconteceu-me quando me mudei para a minha casinha (desta feita a real, feita de cimento e tijolos, com paredes que não se transpõem).
O espaço vazio dá azo a mil hipóteses de arrumação, de decoração e começar é logo à partida definir uma linha de orientação que, a bem da coerência estética, convém seguir e manter.
Este novo espaço está a causar-me a mesma apreensão e a mesma sensação de estranheza. 'Deito-me' nesta nova cama e estranho o cheiro... faltam-me os sonhos (sim, porque mesmo para sonhar tem que haver uma cumplicidade assumida com o leito onde nos deitamos acordados e indefesos).
Sei que mesmo mudando de casa a bagagem que trago comigo sou eu mesma, e isso não muda... mas a hesitação mantém-se, a mesma hesitação de quem prova um novo sabor pela primeira vez ou do pé de uma criança a sentir a areia nos pés.
Hoje estou (ainda) assim... com o maravilhamento ingénuo de quem nunca sentiu o calor da areia nos pés, indecisa sobre como distribuir a minha bagagem nesta minha nova 'casa'!

Fotografia: Un-Decided by gilad
(Todos os Direitos reservados)

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Novo ninho...

Pois é meus amigos...
Chegou a hora de criar asas e voar.
Como vocês sabem (alguns pelo menos) os outros dois blogs em que contribuía eram vistos por olhos de ave de rapina e como tal a invasão da privacidade era também grande!
Por muito que nem todos os amigos nos consigam ler... é muito pior quando é o inimigo a fazê-lo e por isso a razão da criação do Ad Eternum.
Ainda pensei passar para aqui os meus textos já publicados... mas optei por não o fazer. As palavras e os textos têm o seu tempo e o seu espaço, e as palavras que escrevi tiveram também o seu tempo.

Este será o meu cantinho e espero que o vosso também... é pequeno mas de certeza que cabemos cá todos!!
Sejam Bem-vindos! ;)