terça-feira, 25 de novembro de 2008

Escasseio-me!


Hoje não me basto a mim mesma
não me chego
Sinto a pele curta nos braços como se de mangas se tratassem
sinto os ossos a quererem sair das pernas por falta de tecido
Hoje não me basto a mim mesma
falto-me
escasseio-me
Hoje sinto que até o cabelo farto se me enfraquece
que os músculos se me mirram
que os passos se me encurtam
Hoje não me chego
não chego ao que sou
não chego ao tamanho que tenho
não chego à massa que ocupo
não chego ao tempo que é meu
Hoje não me basto
não me basto para defender os meus ideais
não me basto para defender os meus princípios
não me basto para me chegar
não me chego para me bastar
Hoje escasseia-me a pele
escasseiam-me os ossos
escasseia-me o corpo
escasseio-me!

Imagem: Paranoid Androide by Alex Cherry
(All rights reserved)

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Despedida


"Trazer-te no peito é uma bagagem muito pesada para transportar."
Ficou ainda de boca entreaberta como quem ainda tem mais a dizer, eu penso que fosse mesmo o cansaço, fosse o ganhar fôlego para continuar. Por vezes para conseguir transportar as coisas de dentro para fora, trazê-las do mundo imaterial do pensamento para o mundo concreto da palavra falada é uma tarefa difícil. É dar vida, é tornar as coisas reais e isso tem que doer, tem que cansar.
"Não é que não te queira trazer comigo. Não é que possa sequer não o fazer... mas não no coração. É um órgão muito fraco para lhe pedir tal tarefa. Talvez num outro lado..."
Parou e ficou a olhar lentamente para o seu próprio corpo como quem procura uma solução para a guerra no mundo. Dei por mim a seguir o seu olhar e a pensar se ela pensaria me 'carregar' na perna que tantas vezes acariciei, ou nos braços que tantas vezes tive nos meus... na barriga? Sim, como ela adorava sentir a minha mão a passar ao de leve na barriga, ou na nuca, ou no lóbulo da orelha que tantas vezes beijei... Ela ia olhando para o corpo à procura de soluções, à procura de espaço e eu fiquei em suspenso sem saber onde seria o meu lugar mas definitivamente a sentir que não era ali.
Sentia-me a ocupar espaço a mais, sem espaço para estar. O ar entrava-me pelas narinas e sabia a gelo tal era o frio que sentia ao constatar que não tinha espaço, ao constatar que não podia mais respirar, que não me podia mais mexer, que nem a conseguia mais ver...
"Mas trazer-te no peito é uma bagagem muito pesada para transportar... trazer-te aqui é negar-me a transportar mais alguém, é fechar portas, é fechar janelas, é fingir para mim própria e dizer-me que não posso mais amar..."
Não lhe respondi e senti que nem o podia fazer... imóvel continuei a ouvir as palavras que ela teimava em dizer... percebi que as precisava de dizer mesmo sem saber que eu as estava a ouvir...
"No peito não! A ti não! Não posso... vou trazer o nosso amor, todo, todos os nossos dias, todas as nossas loucuras, todas as nossas discussões. Vou guardar o teu bolo de chocolate queimado e o cheiro que teimou em não sair da nossa casa, vou guardar as gargalhadas, vou até guardar as lágrimas mas não te posso mais trazer no peito. Vou guardar o teu cheiro como se fosse o meu mas não posso mais trazer-te no peito. Vou amar-te como sempre te amei mas no peito não posso... é um peso demasiadamente grande. Vou-te amar sempre meu amor mas não te posso trazer mais comigo. Chegou a hora de te deixar partir..."
Levantou-se e virou-me as costas... não deixou flores, nunca as trouxe, sabia que eu detestava esse ritual mórbido. E eu deixei-me ficar e optei por partir.
Percebi que durante aquele tempo todo ela sempre me sentiu, eu era a ausência feita presença e o que ela me quis dizer eu de repente percebi... "Amor foste tu quem morreste e tenho que continuar sem ti. Deixa-me ser feliz!"


Fotografia: Dreamspace reloaded 36 by Denis Olivier
(All rights reserved)

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Desmembramento


Amo aos bocados
só para não acabar com o coração despedaçado
Dou-me aos bocados
só para não acabar com o corpo mutilado




Fotografia: Alone by Marco Fiorentini
(All rights reserved)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Memórias


Nas memórias tenho cores, tenho cheiros, tenho imagens coloridas e outras mais tristes, tenho o sabor de uma comida, tenha o calor de um abraço, tenho um passar da mão pela testa, tenho o chá trazido a meio da noite, tenho os pequenos-almoços de natal, tenho a espera pela meia-noite.
Nas memórias tenho as pessoas - as presentes e as ausentes, tenho os beijos - os dados e os roubados, tenho os concertos e as loucuras, tenho os copos e as lágrimas, tenho as asneiras e os erros.
Nas memórias tenho os grelhados, os mergulhos, o sabor a sal e o calor da areia, tenho as tempestades e as noites de chuva, tenho o copo de vinho saboreado e tenho a música que se ouvia, tenho os olhares e as paisagens.
Nas memórias tenho o pavor das memórias que nunca deveriam ter vida, tenho no peito as feridas ainda vivas e tenho a certeza do ter que continuar.
Nas memórias tenho toda a minha vida e que tenha ainda mais vida, de preferência melhor vivida, para mais tarde recordar!


Imagem: Memories by Solak11
(All rights reserved)

Problemas técnicos


Tudo bem. É um facto. Nem sempre as coisas correm bem.
É mesmo assim! Seria terrível que corressem bem (tal como seria maravilhoso se eu parasse de uma vez por todas a escrever a palavra "seria" com acento grave no 'i'... pancada que adquiri não sei bem porquê há pouco tempo).
Mas continuando, seria mesmo terrível.
Portanto o facto de o meu subsídio de Natal já ter ido à vida e eu ainda nem ter comprado uma prenda não tem problema nenhum. Lá está, é um problema, mas nada de mais!
O facto de estar a poupar dinheiro por ter deixado de fumar (por um lado) e estar a gastar dinheiro nos pensos que me ajudam a estar menos irritante (por outro) também não é um problema... é um problema menor.
O facto de no Domingo ter chegado a casa e ter a cozinha e varanda cheias de água por causa da máquina de lavar a roupa isso já é um problema maior mas visto que poderia ter sido bem pior diminui logo o tamanho de problema.
Ligado a este facto temos o outro problema a ele associado: o ter que chamar alguém lá a casa para resolver o problema já é um problema um bocado maior tendo em conta o primeiro problema que referi (não o de ser disléxica mas o do subsídio de Natal).
Mas tudo bem!
Já pensaram como sería terrível se corresse sempre tudo bem?!


Fotografia: Dolunay by Mehmet Turgut
(All rights reserved)

Dia do Não Fumador


E pela primeira vez em muitos, muitos anos também o meu dia!
(embora com uns crimes cometidos pelo meio...)
Espero estar cá daqui a um ano para poder dizer o mesmo!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Por instantes


Por instantes tive-te na mão.
Não porque fosses coisa. Não porque fosses dado adquirido. Mas simplesmente porque o verbo Ser era conjugado na primeira pessoa do plural. Porque simplesmente éramos! E por esse motivo julguei ter-te na mão.
Não era bem na mão... era mais no colo.
Por instantes julguei ter-te no colo. Deitado sobre mim, aninhado em mim, junto a mim. Tinha-te ali à distância de um inspirar e sentia-te com a força de um sorriso.
E como era bom saber-te ali, perto, junto, dentro.
Por instantes julguei ter-te nos braços.
Julguei ter-te nos abraços, nos rodopios, nas danças, nas gargalhadas. Nas lutas desgrenhadas. Num porto de abrigo. Eras o meu ninho e no entanto era eu quem julgava ter-te nos meus braços. Talvez porque sempre que os abria eram os teus que vinham de encontro aos meus, eram os teus passos que se faziam ouvir e eu de braços estendidos esperava (e esperava sempre o tempo que fosse preciso) para sentir-te de novo.
Por instantes julguei ter-te no peito.
Quando era eu quem me deixava adormecer no teu depois de te teres saciado no meu. Julgava ter-te na união dos nossos peitos porque depois de unidos nada os fazia separar, porque os ritmos eram sincronizados.
Por instantes parei.
E solta de braços e colos, de mãos vazias em frente aos meus olhos que já não encontraram mais os teus percebi.
Por instantes percebi que foi um erro nos verbos.
Eu nunca te tive
tu nunca me tiveste
Mas por instantes amei-te
e por instantes amaste-me
até que o sonho terminasse
e até que cada um de nós
no seu mundo acordasse
...
e por momentos fui feliz!


Fotografia: Present to past by Sarah Bernhard
(All rights reserved)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Verdades Absolutas



Estou com frio!

E como diria o Tom Hanks no Forrest Gump "That's all I got to say about that!"



Fotografia: Cold as Ice by Joleneisme
(All rights reserved)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Grita Comigo!


Grita comigo!!
diz o que tens a dizer
deixa soltar-se o rodopio de vento que sentes aí em dentro
Se preferires grita comigo
chama-me nomes
mas não me venhas com ameaças
não me cortes os movimentos
não me tentes prender
Grita comigo!
Grita comigo à vontade mas depois não te ponhas a chorar
não me atires com os teus gemidos
não os quero ouvir
de tanto os ouvir deixaram-me de me importar
Luta!
Luta comigo se assim o entenderes
luta por algo que ainda aches que vale a pena
luta acima de tudo por ti
mas deixa-me
Deixa-me andar, deixa-me pensar, deixa-me sentir
Onde foste tu arranjar essas amarras?
porque julgas tu que me podes atracar a um porto?
Deixaste de ser o meu porto seguro!
contigo fiquei mudo... e já estou também surdo
por isso podes gritar comigo à vontade
já há muito que te deixei de ouvir.

(13/08/2007)

Simplesmente porque me apeteceu colocar de novo este post aqui!

E, nevertheless, continuo feliz! ;)


Fotografia: Rebel by Mehmet Turgut
(All rights reserved)

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Porque é assim!




Hoje é sexta-feira!
E para além de toda a alegria que as sextas me costumam dar esta sexta é diferente.
No horizonte prevê-se já um fim-de-semana repleto de momentos bons, de momentos que acabam por ser sempre únicos e de aprendizagem porque são sempre de partilha.
Hoje um jantar com uma Amiga que há muito não vejo. O Martini, o queijo e o vinho tinto a acompanhar o jantar são presenças obrigatórias para dar o pano de fundo perfeito a um jantar que serve apenas de pretexto para um abraço longo, para um beijo sentido e para uma conversa que nunca tem fim! É assim com a família que se escolhe. São sempre momentos assim! Únicos!
Sábado o almoço com a mamica onde as conversas chegam a ter contornos hilariantes, também eles únicos, também eles de cumplicidade e de partilha. Não porque somos mãe e filha, mas porque somos amigas, porque somos Mulheres! É assim com a família que nos fez o que somos hoje.
À tarde rumo em direcção à terriola que fica para lá da plaqueta, com um casaco todo giro debaixo do braço para tentar incutir ao meu afilhado lindo a pancada que a madrinha tem por casacos. Há que habituá-los de pequeninos!
Prevejo uma tarde cheia, cansativa, extenuante mas acima de tudo cheia daquelas gargalhadas que me tiram do sério e daquele amuo no fim do dia que é a sua maneira de me dizer que ainda quer brincar mais e que ao mesmo tempo que me deixa com um peso no coração também me enche as medidas porque nesta idade se eles querem é porque querem mesmo, sem mentiras e sem dissimulações. É assim com a família para a qual fomos convidados a fazer parte!
À noite espera-me um abraço, uma gargalhada, um mimo... espera-me a partilha cada vez mais cúmplice!

Domingo logo se vê onde me levam as pernas e a disposição, mas até lá asseguro-vos que planeio ser muito, muito feliz!


Fotografia: Happiness by Wint3r88
(All rights reserved)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Sigur Rós


E menos Feliz vai-me fazer o ter que falhar este concerto também!!

Por isso recuso-me a acreditar que o dinheiro não traz, pelos menos, alguma felicidade...



quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Desafio da Kru

Este desafio foi-me proposto pelo Kruella e consiste no seguinte:


1. colocar uma foto individual nossa;
2. escolher uma banda/artista;
3. responder às questões somente com títulos de canções da banda/artista escolhido;4. escolher 4 pessoas que respondam ao desafio, sem esquecer de avisá-los.

1-Aqui está a carinha laroca:

(Não queriam mais nada pois não?) he he

2-A banda eleita foi Ornatos Violeta
3 - A resposta às questões:
3.1.És homem ou mulher? A Dama do Sinal
3.2. Descreve-te: Chaga
3.3. O que as pessoas acham de ti? Débil mental
3.4. Como descreves o teu último relacionamento: Bigamia
3.5. Descreve o estado actual da tua relação com o teu namorado ou pretendente:Líbido
3.6. Onde querias estar agora? Nuvem
3.7. O que pensas a respeito do amor? 1 Beijo = 1000
3.8. Como é a tua vida? Esfera
3.9. O que pedirias se pudesses ter só um desejo? O mOnstro precisa de Amigos
3.10. Escreve uma frase sábia: Deixa morrer...

Não vou delegar a ninguém... já foram todos delegados mas have fun! ;)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Procurar-te


Procurar-te não é tarefa fácil.
Ando de mapa na mão e embora encontre a seta que diz "Você está aqui!" não vejo nas ruas mais próximas outra que me diga onde estás.
Pousei já os mapas e rendi-me a estas novas tecnologias que me fazem ficar surda de tanto ruído, de tanta confusão de tanto facilitismo e nem o GPS me dá informações plausíveis. Vê lá tu que me diz "Destino desconhecido" como se tu fosses um destino. Como se me fosses desconhecido. Conheci-te toda a minha vida. Tenho em mim os teus cheiros e os teus toques. Tenho-te em mim. Sei que sim. Mas não consigo encontrar-te e procurar-te torna-se a cada dia que passa uma busca interminável digna de cavaleiros que em tempos preocuparam-se em encontrar o graal.
A minha tarefa é bem mais árdua, bem mais difícil.
É encontrar-te.
Continuo a palmilhar as artérias desta cidade que é já sem coração porque eu perdi o meu quando te perdi.
Continuo a procurar por ti desesperadamente para voltar a dar à cidade que já nos viu aos dois um novo palpitar, um novo pulsar, uma nova vida.
Procuro-te nos becos que de tão cinzentos acabaram por ficar sem saída e é por isso que tenho que voltar atrás, sempre a voltar atrás ao ponto de partida. Ao ponto da nossa despedida que não foi um Adeus mas sim um até já e quando me virei não te vi mais e quando tu te viraste já não me encontraste.
Anseio pelos teus braços enquanto corro que nem uma maluca pelas estradas fora, a ignorar os sinais que me mandam parar, a ignorar as pessoas que me dizem que me posso magoar, contra ordens e contra restrições vou dando uma nova esperança a quem me vê passar, a quem sabe pelo que eu estou a passar.
Sinto a cada passo que estou cada vez mais perto.
Sinto no coração um novo pulsar e isso só poderá querer dizer que te estou quase a encontrar.
Sinto! E apenas isso me faz continuar!!


Fotografia: Roads, sun.. and a bird by Anitya
(All rights reserved)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

É verdade pois!


Quero-te com a calma das manhãs sonolentas
Quero-te com a força das gargalhadas
Quero-te com a doçura do fim dos dias
Quero-te sem mais


Fotografia: This my love story VIII by Mehmet Turgut
(All rights reserved)