terça-feira, 24 de março de 2009

E pronto...



E pronto... depois de exorcizar os males e as irritações
e de mandar socos no ar
Inspira-se
Expira-se
e continua-se de cabeça erguida!


Fotografia: My favorite Boxing photo by Perry Gallagher
(All rights reserved)

segunda-feira, 23 de março de 2009

E só porque me irrita mesmo!



Irrita-me
Irrita-me a falta de coluna
o ser invertebrado que deixou de Ser
que é definido pelo Ter
pela inveja de não Ser
Irrita-me
Mas irrita-me mesmo
esta forma menor de se achar superior
esta mania de demarcar linhas
como se fronteiras fossem daí nascer
Irrita-me
Mas deixa-me mesmo possessa
esta forma obscena
de não conseguir ser fontal
de nunca chegar a dizer
Irrita-me
Irrita-me e chega-me a dar um certo gozo
porque quem perde as energias nesta forma mesquinha
anda a perder tempo que é precioso
E embora me irrite
depois acaba por me passar
Mas a vocês meus invertebrados
continua sempre a inveja a pesar!

quarta-feira, 18 de março de 2009

Casos práticos


Adicionar imagem

Ando numa tentativa de ser mais optimista, mais positiva e de não partir telemóveis contra a parede de ânimo tão leve!
Um esforço, que tem sido continuado, em berrar menos com o cão porque o comando está com as pilhas fracas ou de gritar com ele simplesmente porque sim! Ando a esforçar-me mesmo para não comer a comida toda existente em casa depois de partir o telemóvel e de ter gritado com o cão. E sendo assim decidi o seguinte: Os dias que se seguem vão ser tramados. De enorme tensão! Eu quase diria de terror duro (pelo menos para mim claro está) e eu decidi (até porque não vou estar com o cão à mão de semear nem com as minhas paredes à mão de semear do telemóvel) "Racionalizar" as coisas para assim destituí-las de importância exacerbada. Ou seja ver o lado positivo e negativo!!

Primeiro caso prático: Dois dias de curso (O novo Código do Trabalho - Alterações e implicações) de uma área que não domino e que versa apenas sobre as alterações ao novo Código (do Trabalho) que implica o conhecimento profundo do Anterior e que a menina não possui. Parte negativa: vou andar às aranhas e vou passar 14 horas da minha vida (duração da acção) em puro silêncio! Parte positiva: o almoço está incluído e estou com fé na existência de coffee-break com bastante coffee e que a break seja significativa!
Segundo caso prático:
Na Sexta-feira, e já de malas feitas, partir em direcção às terras do menino para conhecer (e dar-me a conhecer pl') os progenitores e amigos próximos da zona.
Parte negativa: o ter que ir! Parte positiva: o ir! Parte mesmo negativa: o querer ir ao mesmo tempo que não quero (o que me vai valer umas boas sessões deitada no divã)
Terceiro caso prático:
Comentei com o menino que o que gostava mesmo de fazer era... (e lembrei-me agora de uma anedota excelente mas que não posso contar aqui) cantar num coro. É verdade meus amigos! Até contactei um coro (amador claro está) para saber como se prestavam provas e tudo...
parte negativa: o ter tido a infeliz ideia de ter comentado com o menino parte muito negativa: ele estar a "obrigar-me" a ir parte mesmo muito muito negativa: um dos amigos do menino que vou conhecer este fim-de-semana é músico/maestro... cheira-me que não vou poder estar de boca fechada e sossegadinha no meu canto como gosto. parte positiva: eu depois digo se fui aceite no coro quando (e se) prestar provas. Por isso até agora é só partes negativas!

Quarto caso prático: Estou mesmo farta de estar no trabalho, só me apetecia estar em casa, tomar um banhinho e meter as pernas para cima! parte negativa: estou aqui parte positiva: se eu estivesse em casa não tinha escrito isto. parte mesmo muito negativa: eu escrevi isto!


E peço desculpa à Nikky por lhe roubar assim a imagem mas se não fosse o teu post e esta imagem eu não teria escrito nada hoje. (desculpa pelos insultos que vais receber.... de certeza que o pessoal não te vai agradecer!!!)
E dito isto vou ter uma pequena conversa com o cão e já venho!

sexta-feira, 13 de março de 2009

Escolhas



Se escrever um livro fosse tarefa fácil como ter um filho já o teria escrito!
Que me venham com as pedras e não se esqueçam dos telhados de vidro
que me venham com acusações
mas essas é que são essas e nem vale a pena discussões
Comecemos pelo princípio e no fim concordarão comigo!
Desejam-nos uma hora pequenina
um parto sem dores
e no fim as que não sofreram sorriem
e as que sofreram dizem que o resultado compensa os horrores
Ora um Livro é mais complicado!
Não há horas pequeninas e por vezes dura mesmo anos
o parto é sempre doloroso
e o "Parabéns" não é garantido
Dizem que mal nasce o amor é incondicional
os defeitos foi buscá-los à família do pai
e tudo o que é bom da nossa parte vai
Ora um Livro é todo nosso
não há culpas a deitar aos outros
a não ser "uma questão de gostos"
E embora nos custe a constatar
lá porque o "parimos" não implica que dele fossemos gostar
E depois há ainda outra questão que me faz muita confusão
é que ao fim de 9 meses já se sabe que está pronto
rebenta as águas que o separa do mundo
e vem todo contente criar um tumulto
Mas o artista tem sempre a dúvida
de saber com a devida exactidão
quando a obra está terminada
e quando está terminada a labuta
Mas o que me faz ainda não o ter escrito
é mesmo a parte de o fazer
é que um livro custa
mas um filho dá prazer!

terça-feira, 10 de março de 2009

Venham novos dias


Tenho saudades do Verão e dos dias de praia
de sentir a pele salgada
de sentir a pele bronzeada
de me deixar adormecer ao sol!

segunda-feira, 9 de março de 2009

O Lenço vermelho


Hoje ofereceram-me um lenço vermelho!
Não veio embrulhado e nunca o irei usar.
Mas ofereceram-me um lenço vermelho.
Um lenço que há imenso tempo andava a cobiçar
um lenço que me fizesse sentir com mais cor
com mais vida, mais faladora e mais divertida
um lenço vermelho que me fizesse sentir parte do meio
Um lenço que me desse a coragem que o vermelho implica
que me desse parte da sua vida
Hoje ofereceram-me um lenço vermelho que nunca terei nas mãos
um lenço que nunca sentirei a textura
que nunca me irá proteger do vento
mas que era mesmo o lenço que eu queria!
Hoje ofereceram-me um lenço vermelho
porque o lenço lhe chamou a atenção
e porque o fez lembrar de mim
E quando ele pergunta se o que conta mesmo é a intenção
A minha resposta só poderia mesmo ser
Claro que sim!


Fotografia: The red scarf by Praful
(All rights reserved)

sexta-feira, 6 de março de 2009

Desperdício



E de repente faz sentido
passam os anos e faz sentido
faz sentido o tique que já é parte da fisionomia de um rosto
que em tempos dava gosto
faz sentido a troca de insultos
em voz alta nos transportes públicos
porque vale tudo para colmatar o silêncio
faz sentido fazermos o gesto do "és mas é maluco!"
e o outro nem ver nisso um insulto
faz sentido o deixar de ouvir
o deixar de querer compreender
o deixar de querer
faz sentido o não conversar
e se é para debater
debate-se a compra de um novo sofá
a compra de uma nova mobília
para dar nova cor à vida
passam os anos e começa a fazer sentido
passa o tempo e parece que perdemos os sentidos
passa uma vida inteira e arrependemo-nos
Arrependemo-nos de não ter discutido
de não ter ouvido
de não ter ripostado ao insulto
de termos sido chamados de malucos
de não ter agarrado
de não termos mordido
de não termos beijado
de não termos sonhado
E de repente nada faz sentido
e de repente a vida soa-nos a desperdício
e sonhamos ter feito tudo diferente!


Fotografia: Characters by Toko
(All rights reserved)

Sussurros

Hoje não te procurei
Dei por isso quando o tempo já desfilava na passadeira do dia
Hoje não te procurei
Não quero com isso dizer que já não te quero
que te perdi
ou mesmo que me perdi de ti
mas hoje não te procurei
Com a cabeça cheia de palavras a querer sair
e o peito cheio de coisas que ainda não consigo definir
cheguei e não te procurei
E se puder admitir baixinho
como num sussurro feito delicadamente ao ouvido
se pudesse transmitir esta doçura às palavras
eu até te diria que hoje se pudesse
nem te procurava!


Fotografia: Momentaneous Power II by Sue Anna Joe
(All rights reserved)

quarta-feira, 4 de março de 2009

...


e poderia escrever tudo e mesmo assim não conseguir que tudo tivesse sentido


Imagem: Vieira da Silva, L’Issue Lumineuse, 1983-86

terça-feira, 3 de março de 2009

Perdi


Perdi a noção do mundo no exacto momento em que o olhei de frente.
Perdi a noção do que significava a partir do momento em que o interroguei
Perdi a perspectiva quando o olhei de alto
e quando olhei para ele por baixo senti-me por ele esmagado
Olhei para o mundo dos parapeitos do meu prédio
a sentir os seus braços invisíveis a tocarem-me
a segurarem-me
a impedirem-me de cair
mas continuei a andar, continuei a olhar
E foi quando o medo chegou
quando a ingenuidade me abandonou
que me obriguei a parar de olhar o mundo de frente
em que perdi noção do que significava
em que perdi noção do que importava
em que ganhei a noção que já não acreditava!


Fotografia: Ali Teheran by Huseyin Turk
(All rights reserved)