Entre a solidão e o vazio… venha o vazio, venha apenas a ausência de espaços e de conteúdos mas nunca a ausência de pessoas e de pensamentos, venha a ausência de mobília numa casa pintada de fresco mas nunca a ausência dos objectivos de como mobilá-la ou de com quem partilhá-la, venha o vazio mas nunca a solidão.
Entre a solidão e o vazio… venha o vazio que é sempre passível de ser preenchido, que tem paredes e muros em volta que sempre implicam um espaço que, de algum modo, nos abraça e nos envolve. A solidão implica em si mesma a ausência dos muros e das paredes, implica a inexistência do espaço e, pior ainda, a ausência dos abraços.
A solidão por não ser física e por não ter um corpo, vale o que vale, vale a dor e o sofrimento, vale a ausência do que poderia estar presente. A solidão é o gemer das cordas de um violino, é o ouvir do arco a acariciar as cordas, é ouvir o ofegar do violinista. A solidão é darmos vida e voz a um violino e não termos com quem partilhar esse milagre supremo que é a música, não termos com quem chorar essas notas. Chorar ao ouvir um violino a tocar é unirmo-nos num campo metafísico à essência musical, é oferecer as nossas lágrimas como presente, é sofrer gratuitamente porque a melodia que daquele instrumento emana nos abraça, nos magoa, nos dá vida. Essas sempre foram as minhas melhores lágrimas, as mais puras e inocentes, as que insistem em lembrar-me que uma nota perfeita na terceira posição do violino é vida!
Melhor do que o uivar do vento, do que o som das ondas a rebentar, é, sem dúvida, o som de um violino. Nunca vos deu a sensação de que ele estava a falar com vocês? Nunca vos pareceu que estava a pedir-vos socorro? A gemer de dor apenas para que vocês o afagassem, o acarinhassem? Então já sabem o que é a solidão! Porque a solidão é isso mesmo, é ouvirem um violino a gemer, é ele gemer dentro de nós, gritar por socorro dentro de nós… se há alma ou uma consciência interior então ela é esse violino, essa forma suprema de vida. A solidão é o não conseguirmos responder a esse apelo que é feito por nós próprios a nós próprios.
(Peço desculpa por estar a meter aqui um texto meu já antigo... mas à falta de inspiração...)
2 comentários:
Como não te conhecia na altura deste texto...talvez fosse de bom tom enviares-me os teus backups de escrita, pois está soberbo e digo-te com humildade não sou profundo conhecedor de música clássica mas conheço qualquer coisita...e o som do violino a mim acalma-me a mente e o corpo não acho que seja triste!!! é diferente dos outros instrumentos.. (peculiar).
bjo obrigado pelo texto...parece discos pedidos..LOL
bom fds e eu que veja.. :)
Oh PP muito obrigada...
É sempre reconfortante quando as pessoas se revêem de algum modo naquilo que escrevo e quando partilham dos mesmos sentimentos!!!
Mil jokinhas :)
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