terça-feira, 2 de outubro de 2007

Cansaço...



"Não te sentes cansado?"
No balcão do bar ao fim do dia, de volta de uma bebida, há anos que ali se encontram. Nunca combinaram, simplesmente aparecem... à mesma hora de todos os dias que teimam em ser iguais!
"Cansado como?"
É naquele balcão de madeira com as marcas já visíveis das vidas que por lá passam e se desgastam que as confidências surgem... estas são ali desmontadas como se de carros se tratassem. Com a mesma simplicidade e a mesma lógica apenas acarretando o peso que têm.
"Opá, cansado! Ás vezes parece que andei uma vida inteira à luta com a vida. Estou cansado! Não sentes isso?"
As conversas são feitas com os olhos postos no expositor de vidro que se apresenta à frente. Sentados lado a lado os olhos não se cruzam. Ficam apenas a ver o desfilar das garrafas que estão reservados para o consumo da casa e a dizer o que lhes vai no corpo... pois não acreditam que exista alma!
"Ahh... olha não sei se é bem a mesma coisa, mas a sensação que eu tenho é que ando cansado de andar com este esqueleto atrás. Um cansaço desmesurado... olha, não sei explicar!"
Os dedos vão percorrendo calmamente o copo que se encontra estático à frente. Com eles as gotas vão-se adensando e na base fica uma leve lagoa que volta não volta transborda...
"Pois deve ser isso... olha, é a vida!"
"Pois é!"
Não vale a pena adiantar mais no assunto!
Esta é a sua forma mais intimista, o máximo onde querem ir.

Encolhem os ombros e limitam-se a olhar para as garrafas que continuam a desfilar à sua frente.
Olham-nas como se fosse a primeira vez... e desta forma as olham todos os dias.

2 comentários:

deKruella disse...

Monotonia...se às vezes é reconfortante...outras vezes leva-nos à exaustão de lugares, situações e pessoas...para lá voltarmos no dia seguinte

Chapas disse...

E de que maneira!