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"Não te sentes cansado?"
No balcão do bar ao fim do dia, de volta de uma bebida, há anos que ali se encontram. Nunca combinaram, simplesmente aparecem... à mesma hora de todos os dias que teimam em ser iguais!
"Cansado como?"
É naquele balcão de madeira com as marcas já visíveis das vidas que por lá passam e se desgastam que as confidências surgem... estas são ali desmontadas como se de carros se tratassem. Com a mesma simplicidade e a mesma lógica apenas acarretando o peso que têm.
"Opá, cansado! Ás vezes parece que andei uma vida inteira à luta com a vida. Estou cansado! Não sentes isso?"
As conversas são feitas com os olhos postos no expositor de vidro que se apresenta à frente. Sentados lado a lado os olhos não se cruzam. Ficam apenas a ver o desfilar das garrafas que estão reservados para o consumo da casa e a dizer o que lhes vai no corpo... pois não acreditam que exista alma!
"Ahh... olha não sei se é bem a mesma coisa, mas a sensação que eu tenho é que ando cansado de andar com este esqueleto atrás. Um cansaço desmesurado... olha, não sei explicar!"
Os dedos vão percorrendo calmamente o copo que se encontra estático à frente. Com eles as gotas vão-se adensando e na base fica uma leve lagoa que volta não volta transborda...
"Pois deve ser isso... olha, é a vida!"
"Pois é!"
Não vale a pena adiantar mais no assunto!
Esta é a sua forma mais intimista, o máximo onde querem ir.
Encolhem os ombros e limitam-se a olhar para as garrafas que continuam a desfilar à sua frente.
Olham-nas como se fosse a primeira vez... e desta forma as olham todos os dias.
2 comentários:
Monotonia...se às vezes é reconfortante...outras vezes leva-nos à exaustão de lugares, situações e pessoas...para lá voltarmos no dia seguinte
E de que maneira!
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