quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Receitas!


Na urgência de agarrar as palavras certas peguei nas consoantes erradas. Agora tenho mil e um fragmentos do abecedário e não lhes consigo encontrar sentido.
Agarro nas consoantes e tento juntar-lhe as vogais, mas não passam de 'ui's' e de ai's e desisto de juntar o que não pode ter união.
Deixo-as a repousar como eu me lembro de ver a minha mãe fazer à farinha depois de lhe juntar o fermento. Deixo tudo a descansar com uma mantinha a tapar.
Deixo tudo a abafar e a fermentar e passadas umas horas volto a tentar.
Volto ao emaranhado de consoantes e de vogais e percebo que falta algo. Volto à receita que nunca li, aos ingredientes de que nunca ouvi falar e junto-lhe vírgulas e ífens, pontos finais e reticências e volto à penitência.
Misturo tudo muito bem misturado, chego a dar murros àquela estranha manta de retalhos e volto a deixar repousar.
Deixo tudo a abafar e a fermentar e passadas umas horas volto a tentar.
Aos poucos o emaranhado ganha consistência.
Aos poucos ganha sabor e começa a apelar aos sentidos.
Agarro em consoantes e junto-lhe as vogais. No tabuleiro aparecem-me as palavras feitas. Pego nelas e com todo o cuidado junto-lhes a pontuação. Faço-o com amor e dedicação. E dito ao vento as palavras que mesmo sendo banais vêm do coração.
Aos poucos tenho um tabuleiro cheio.
Levo-as ao forno e quando lhes sinto o aroma no ar retiro-as devagar.
E assim se fez um texto!

Fotografia: Words by Linus
(All rights reserved)

Agarra-me!



Agarra-me! Com a força de mil heróis, com a força de mil braços e não penses mais em me largar!

Possui-me com a malvadez de mil demónios e nem penses em confessar-te.
Limita-te a agarrar-me. Limita-te a abraçar-me. Limita-te a estar.
Mas não te limites! Ultrapassa-te! Ultrapassa-me!
Mas não deixes de me agarrar! Não deixes de fazer dos teus braços os meus braços, das tuas mãos a minha pele, do teu cheiro o meu aroma. Não deixes de fazer de nós um número apenas!
Agarra-me com a suavidade com que só tu me sabes agarrar. Com essa forte doçura, com esse carinhoso apertar.
Não deixes de me fazer sentir segura, de me fazer sentir tua, de me fazer voltar a sonhar.


Fotografia: Black and light by Mehmet Turgut
(All rights reserved)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Suficientes


Sangrava desmesuradamente, descompassadamente e com a calma que a morte exige.
Uma morte nunca deve ser repentina. Ao menos que dê tempo para uma despedida!
Não telefonou a ninguém, não gritou, não chamou pela ambulância nem pelos bombeiros. Sabia-se ferida de morte. Sabia que não havia solução.
O sangue escorria-lhe pelas mãos, caía em gotas grossas pelos joelhos e daí para formar uma poça no chão. Deu por si a ver o seu sangue a ganhar vida própria, a ganhar direcção. Parecia correr, fugir do seu corpo para se depositar no meio do chão. Amaldiçoou por instantes o próprio sangue. Que sangue era este, este sangue que sempre fora seu, que sempre andara livremente pelo seu corpo, sem quaisquer tipo de limitações, que sempre teve toda a liberdade e que agora a recusava, que agora lhe negava a sua presença por caminhos feitos de veias, que agora se recusava a aquecer o seu corpo, a manter-se fonte de vida invisível?
Foram breves os momentos de ira e de incompreensão. Acabou por aceitar que aquele sangue não era já mais o seu. Assim como aquela vida a abandonava aos poucos e era cada vez mais vida fora de si.
Por momentos sorriu com a ideia de que seria o chão a ganhar nova vida enquanto ela se transformava em matéria inerte e fria no chão.
Sangrava desmesuradamente e enquanto sentia que o seu corpo já pouco aguentaria tentou perdoar a quem lhe tinha feito mal. Descobriu que há crimes que nunca devem ser perdoados... Tentou enfim perdoar a quem a tinha magoado e descobriu que há mágoas que nem um mar de sangue consegue disfarçar.
Por fim e ao ver as últimas gotas de sangue a saírem do seu corpo decidiu que iria apenas lembrar o amor que valia a pena guardar.
Cada gota uma pessoa. E embora não fossem muitas foram as suficientes para estancar o seu sangrar!


Fotografia: I am the drain by Jenni Tapanila
(All rights reserved)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Vontade de voltar


Foram muitos os kms percorridos, muitos os comboios apanhados e os perdidos, muitas as viagens de barco em mares serenos e em mares revoltos. Foram muitos os autocarros dos que se vêm as vistas das cidades e dos que nada se vê devido a grafitis exagerados. Foram muitos os passeios calcorreados, muitos os encontros exagerados, muitas as paisagens verdes e os edifícios altos. Os apontamentos, as fotografias, os cafés com perfeitos desconhecidos, os números de telefone trocados, as inconfidências de infância contadas. Foram muitos os postais enviados, muitos os telefonemas efectuados e outros ignorados. Foram muitos os aeroportos, muitas as estações de comboios apinhados, algumas malas perdidas e noutras cidades reavidas.
Foram muitas horas feitas dias, muitos dias feitos uma vida, foi uma vida feita com a bagagem devida.
Foi o trazer a casa às costas e fazer da vida uma aposta.
Foram muitos os kms percorridos
e trago os pés doridos de tanto andar
e trago os braços caídos de tanto tempo carregar a Vontade de voltar!


Fotografia: Dawn by Sue Anna Joe
(All Rights reserved)

sábado, 13 de dezembro de 2008

Devagar


Fui devagar
fui com a pressa que era a necessária
fui sem pressa de chegar
Eu não fui... apenas deixei-me ir
apenas deixei-me levar
sem saber onde iria parar.
Eu não vi... nem tentei espreitar
não quis saber para onde me levava
nem quis saber quando isso iria parar
apenas deixei-me guiar.
Eu não quis... nem tive vontade de querer
apenas me deixei prender
por amarras sem perder
por nós sem fim
Eu fui devagar
quando a vontade era de apressar
quando a vontade era de correr
e de apenas te encontrar
Chegada ao pé de ti finalmente percebi
afinal fugia de mim
afinal corria para mim
afinal continuei sem me encontrar
Eu fui devagar
apenas porque já não tinha
motivos para me apressar!


Fotografia: Saatleri ayarlama enstitusu by Hüseyin Türk
(All rights reserved)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

E se eu te disser?


E se eu te disser que estou quase a morrer?
que é uma dor profunda
que foi um golpe abismal
que não dá para 'arranjar'
E se eu te disser que não te sei explicar?
que sinto os membros congelados
que sinto um peso no peito
que me sinto a desvanecer
E se eu te disser que me sinto a enlouquecer?
que me apetece gritar
que me apetece correr
que me apetece chorar
E se eu te disser que a culpa é minha?
que quero pôr um fim a esta agonia
que quero apenas conseguir escrever
E se eu te disser que as palavras morreram?
que me secaram na boca
que desapareceram do meu peito
que me deixaram sem alento
E se eu te disser que nem sei expressar
que preciso delas para sobreviver
que preciso delas para amenizar o sofrimento
E se eu te disser que sempre foram os meus melhores amigos
que são os parágrafos que me dão carinhos
que são as vírgulas que me deixam respirar
E se eu te disser que as palavras morreram?
Irás perceber que preciso delas?
Irás ajudar-me a encontrar
o que eu preciso para continuar?


Fotografia: BII by Mehmet Turgut
(All rights reserved)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

E se?


E se fosse preciso apenas um salto?
E se fosse preciso apenas isso?
será que faria o que é preciso?
E se fosse preciso apenas saber?
Saber o que é preciso fazer
saber que é disso que preciso
Será que me atiraria no abismo?


Imagem: AxD by Michal Karcz
(All rights reserved)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Voltar a dormir


Enchi-me de coragem e peguei no aspirador e logo se seguida no balde e na esfregona. Quando algo me atormenta vingo-me na casa e ela até que agradece.
Aspirei o sofá e a colcha da cama para apagar os vestígios de um cão que tem teimado em dormir mais quentinho. Não o culpo. Eu até agradeço a companhia (e o calor) dele.
Tomo um duche rápido e saio decidida para uma noite gélida. Destino: a aula de yoga que me espera para me acalmar as inquietações e descontrair o corpo.
Saio a meio porque o corpo reclama com dores e quando chego a casa percebo que não é apenas o corpo. Sinto-me incapaz por nem numa aula de yoga conseguir aliviar os medos e as tormentas.
Cheia de frio coloco o arroz no micro-ondas apenas para descobrir que já está azedo. Pego na carne que para lá caminha e acabo mesmo por me contentar com um hambúrguer grelhado perdido algures no meu congelador.
Quase que me deixo adormecer no sofá enquanto vejo umas tatuagens a serem feitas num qualquer programa da televisão.
Chego ao quarto e refilo com o aquecedor que não cumpriu a sua função. Adormeço de aquecedor ligado e cheia de frio.
Acordo com o mesmo humor e com o mesmo frio.
O corpo reclama por um descanso que nem sequer merece, mas que mesmo assim não deixa de o reclamar.
Acordo a desejar que fosse novamente noite só para poder voltar a dormir...


Fotografia: Sadness2 by Lidia Estrada
(All rights reserved)

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Escasseio-me!


Hoje não me basto a mim mesma
não me chego
Sinto a pele curta nos braços como se de mangas se tratassem
sinto os ossos a quererem sair das pernas por falta de tecido
Hoje não me basto a mim mesma
falto-me
escasseio-me
Hoje sinto que até o cabelo farto se me enfraquece
que os músculos se me mirram
que os passos se me encurtam
Hoje não me chego
não chego ao que sou
não chego ao tamanho que tenho
não chego à massa que ocupo
não chego ao tempo que é meu
Hoje não me basto
não me basto para defender os meus ideais
não me basto para defender os meus princípios
não me basto para me chegar
não me chego para me bastar
Hoje escasseia-me a pele
escasseiam-me os ossos
escasseia-me o corpo
escasseio-me!

Imagem: Paranoid Androide by Alex Cherry
(All rights reserved)

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Despedida


"Trazer-te no peito é uma bagagem muito pesada para transportar."
Ficou ainda de boca entreaberta como quem ainda tem mais a dizer, eu penso que fosse mesmo o cansaço, fosse o ganhar fôlego para continuar. Por vezes para conseguir transportar as coisas de dentro para fora, trazê-las do mundo imaterial do pensamento para o mundo concreto da palavra falada é uma tarefa difícil. É dar vida, é tornar as coisas reais e isso tem que doer, tem que cansar.
"Não é que não te queira trazer comigo. Não é que possa sequer não o fazer... mas não no coração. É um órgão muito fraco para lhe pedir tal tarefa. Talvez num outro lado..."
Parou e ficou a olhar lentamente para o seu próprio corpo como quem procura uma solução para a guerra no mundo. Dei por mim a seguir o seu olhar e a pensar se ela pensaria me 'carregar' na perna que tantas vezes acariciei, ou nos braços que tantas vezes tive nos meus... na barriga? Sim, como ela adorava sentir a minha mão a passar ao de leve na barriga, ou na nuca, ou no lóbulo da orelha que tantas vezes beijei... Ela ia olhando para o corpo à procura de soluções, à procura de espaço e eu fiquei em suspenso sem saber onde seria o meu lugar mas definitivamente a sentir que não era ali.
Sentia-me a ocupar espaço a mais, sem espaço para estar. O ar entrava-me pelas narinas e sabia a gelo tal era o frio que sentia ao constatar que não tinha espaço, ao constatar que não podia mais respirar, que não me podia mais mexer, que nem a conseguia mais ver...
"Mas trazer-te no peito é uma bagagem muito pesada para transportar... trazer-te aqui é negar-me a transportar mais alguém, é fechar portas, é fechar janelas, é fingir para mim própria e dizer-me que não posso mais amar..."
Não lhe respondi e senti que nem o podia fazer... imóvel continuei a ouvir as palavras que ela teimava em dizer... percebi que as precisava de dizer mesmo sem saber que eu as estava a ouvir...
"No peito não! A ti não! Não posso... vou trazer o nosso amor, todo, todos os nossos dias, todas as nossas loucuras, todas as nossas discussões. Vou guardar o teu bolo de chocolate queimado e o cheiro que teimou em não sair da nossa casa, vou guardar as gargalhadas, vou até guardar as lágrimas mas não te posso mais trazer no peito. Vou guardar o teu cheiro como se fosse o meu mas não posso mais trazer-te no peito. Vou amar-te como sempre te amei mas no peito não posso... é um peso demasiadamente grande. Vou-te amar sempre meu amor mas não te posso trazer mais comigo. Chegou a hora de te deixar partir..."
Levantou-se e virou-me as costas... não deixou flores, nunca as trouxe, sabia que eu detestava esse ritual mórbido. E eu deixei-me ficar e optei por partir.
Percebi que durante aquele tempo todo ela sempre me sentiu, eu era a ausência feita presença e o que ela me quis dizer eu de repente percebi... "Amor foste tu quem morreste e tenho que continuar sem ti. Deixa-me ser feliz!"


Fotografia: Dreamspace reloaded 36 by Denis Olivier
(All rights reserved)

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Desmembramento


Amo aos bocados
só para não acabar com o coração despedaçado
Dou-me aos bocados
só para não acabar com o corpo mutilado




Fotografia: Alone by Marco Fiorentini
(All rights reserved)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Memórias


Nas memórias tenho cores, tenho cheiros, tenho imagens coloridas e outras mais tristes, tenho o sabor de uma comida, tenha o calor de um abraço, tenho um passar da mão pela testa, tenho o chá trazido a meio da noite, tenho os pequenos-almoços de natal, tenho a espera pela meia-noite.
Nas memórias tenho as pessoas - as presentes e as ausentes, tenho os beijos - os dados e os roubados, tenho os concertos e as loucuras, tenho os copos e as lágrimas, tenho as asneiras e os erros.
Nas memórias tenho os grelhados, os mergulhos, o sabor a sal e o calor da areia, tenho as tempestades e as noites de chuva, tenho o copo de vinho saboreado e tenho a música que se ouvia, tenho os olhares e as paisagens.
Nas memórias tenho o pavor das memórias que nunca deveriam ter vida, tenho no peito as feridas ainda vivas e tenho a certeza do ter que continuar.
Nas memórias tenho toda a minha vida e que tenha ainda mais vida, de preferência melhor vivida, para mais tarde recordar!


Imagem: Memories by Solak11
(All rights reserved)

Problemas técnicos


Tudo bem. É um facto. Nem sempre as coisas correm bem.
É mesmo assim! Seria terrível que corressem bem (tal como seria maravilhoso se eu parasse de uma vez por todas a escrever a palavra "seria" com acento grave no 'i'... pancada que adquiri não sei bem porquê há pouco tempo).
Mas continuando, seria mesmo terrível.
Portanto o facto de o meu subsídio de Natal já ter ido à vida e eu ainda nem ter comprado uma prenda não tem problema nenhum. Lá está, é um problema, mas nada de mais!
O facto de estar a poupar dinheiro por ter deixado de fumar (por um lado) e estar a gastar dinheiro nos pensos que me ajudam a estar menos irritante (por outro) também não é um problema... é um problema menor.
O facto de no Domingo ter chegado a casa e ter a cozinha e varanda cheias de água por causa da máquina de lavar a roupa isso já é um problema maior mas visto que poderia ter sido bem pior diminui logo o tamanho de problema.
Ligado a este facto temos o outro problema a ele associado: o ter que chamar alguém lá a casa para resolver o problema já é um problema um bocado maior tendo em conta o primeiro problema que referi (não o de ser disléxica mas o do subsídio de Natal).
Mas tudo bem!
Já pensaram como sería terrível se corresse sempre tudo bem?!


Fotografia: Dolunay by Mehmet Turgut
(All rights reserved)

Dia do Não Fumador


E pela primeira vez em muitos, muitos anos também o meu dia!
(embora com uns crimes cometidos pelo meio...)
Espero estar cá daqui a um ano para poder dizer o mesmo!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Por instantes


Por instantes tive-te na mão.
Não porque fosses coisa. Não porque fosses dado adquirido. Mas simplesmente porque o verbo Ser era conjugado na primeira pessoa do plural. Porque simplesmente éramos! E por esse motivo julguei ter-te na mão.
Não era bem na mão... era mais no colo.
Por instantes julguei ter-te no colo. Deitado sobre mim, aninhado em mim, junto a mim. Tinha-te ali à distância de um inspirar e sentia-te com a força de um sorriso.
E como era bom saber-te ali, perto, junto, dentro.
Por instantes julguei ter-te nos braços.
Julguei ter-te nos abraços, nos rodopios, nas danças, nas gargalhadas. Nas lutas desgrenhadas. Num porto de abrigo. Eras o meu ninho e no entanto era eu quem julgava ter-te nos meus braços. Talvez porque sempre que os abria eram os teus que vinham de encontro aos meus, eram os teus passos que se faziam ouvir e eu de braços estendidos esperava (e esperava sempre o tempo que fosse preciso) para sentir-te de novo.
Por instantes julguei ter-te no peito.
Quando era eu quem me deixava adormecer no teu depois de te teres saciado no meu. Julgava ter-te na união dos nossos peitos porque depois de unidos nada os fazia separar, porque os ritmos eram sincronizados.
Por instantes parei.
E solta de braços e colos, de mãos vazias em frente aos meus olhos que já não encontraram mais os teus percebi.
Por instantes percebi que foi um erro nos verbos.
Eu nunca te tive
tu nunca me tiveste
Mas por instantes amei-te
e por instantes amaste-me
até que o sonho terminasse
e até que cada um de nós
no seu mundo acordasse
...
e por momentos fui feliz!


Fotografia: Present to past by Sarah Bernhard
(All rights reserved)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Verdades Absolutas



Estou com frio!

E como diria o Tom Hanks no Forrest Gump "That's all I got to say about that!"



Fotografia: Cold as Ice by Joleneisme
(All rights reserved)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Grita Comigo!


Grita comigo!!
diz o que tens a dizer
deixa soltar-se o rodopio de vento que sentes aí em dentro
Se preferires grita comigo
chama-me nomes
mas não me venhas com ameaças
não me cortes os movimentos
não me tentes prender
Grita comigo!
Grita comigo à vontade mas depois não te ponhas a chorar
não me atires com os teus gemidos
não os quero ouvir
de tanto os ouvir deixaram-me de me importar
Luta!
Luta comigo se assim o entenderes
luta por algo que ainda aches que vale a pena
luta acima de tudo por ti
mas deixa-me
Deixa-me andar, deixa-me pensar, deixa-me sentir
Onde foste tu arranjar essas amarras?
porque julgas tu que me podes atracar a um porto?
Deixaste de ser o meu porto seguro!
contigo fiquei mudo... e já estou também surdo
por isso podes gritar comigo à vontade
já há muito que te deixei de ouvir.

(13/08/2007)

Simplesmente porque me apeteceu colocar de novo este post aqui!

E, nevertheless, continuo feliz! ;)


Fotografia: Rebel by Mehmet Turgut
(All rights reserved)

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Porque é assim!




Hoje é sexta-feira!
E para além de toda a alegria que as sextas me costumam dar esta sexta é diferente.
No horizonte prevê-se já um fim-de-semana repleto de momentos bons, de momentos que acabam por ser sempre únicos e de aprendizagem porque são sempre de partilha.
Hoje um jantar com uma Amiga que há muito não vejo. O Martini, o queijo e o vinho tinto a acompanhar o jantar são presenças obrigatórias para dar o pano de fundo perfeito a um jantar que serve apenas de pretexto para um abraço longo, para um beijo sentido e para uma conversa que nunca tem fim! É assim com a família que se escolhe. São sempre momentos assim! Únicos!
Sábado o almoço com a mamica onde as conversas chegam a ter contornos hilariantes, também eles únicos, também eles de cumplicidade e de partilha. Não porque somos mãe e filha, mas porque somos amigas, porque somos Mulheres! É assim com a família que nos fez o que somos hoje.
À tarde rumo em direcção à terriola que fica para lá da plaqueta, com um casaco todo giro debaixo do braço para tentar incutir ao meu afilhado lindo a pancada que a madrinha tem por casacos. Há que habituá-los de pequeninos!
Prevejo uma tarde cheia, cansativa, extenuante mas acima de tudo cheia daquelas gargalhadas que me tiram do sério e daquele amuo no fim do dia que é a sua maneira de me dizer que ainda quer brincar mais e que ao mesmo tempo que me deixa com um peso no coração também me enche as medidas porque nesta idade se eles querem é porque querem mesmo, sem mentiras e sem dissimulações. É assim com a família para a qual fomos convidados a fazer parte!
À noite espera-me um abraço, uma gargalhada, um mimo... espera-me a partilha cada vez mais cúmplice!

Domingo logo se vê onde me levam as pernas e a disposição, mas até lá asseguro-vos que planeio ser muito, muito feliz!


Fotografia: Happiness by Wint3r88
(All rights reserved)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Sigur Rós


E menos Feliz vai-me fazer o ter que falhar este concerto também!!

Por isso recuso-me a acreditar que o dinheiro não traz, pelos menos, alguma felicidade...



quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Desafio da Kru

Este desafio foi-me proposto pelo Kruella e consiste no seguinte:


1. colocar uma foto individual nossa;
2. escolher uma banda/artista;
3. responder às questões somente com títulos de canções da banda/artista escolhido;4. escolher 4 pessoas que respondam ao desafio, sem esquecer de avisá-los.

1-Aqui está a carinha laroca:

(Não queriam mais nada pois não?) he he

2-A banda eleita foi Ornatos Violeta
3 - A resposta às questões:
3.1.És homem ou mulher? A Dama do Sinal
3.2. Descreve-te: Chaga
3.3. O que as pessoas acham de ti? Débil mental
3.4. Como descreves o teu último relacionamento: Bigamia
3.5. Descreve o estado actual da tua relação com o teu namorado ou pretendente:Líbido
3.6. Onde querias estar agora? Nuvem
3.7. O que pensas a respeito do amor? 1 Beijo = 1000
3.8. Como é a tua vida? Esfera
3.9. O que pedirias se pudesses ter só um desejo? O mOnstro precisa de Amigos
3.10. Escreve uma frase sábia: Deixa morrer...

Não vou delegar a ninguém... já foram todos delegados mas have fun! ;)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Procurar-te


Procurar-te não é tarefa fácil.
Ando de mapa na mão e embora encontre a seta que diz "Você está aqui!" não vejo nas ruas mais próximas outra que me diga onde estás.
Pousei já os mapas e rendi-me a estas novas tecnologias que me fazem ficar surda de tanto ruído, de tanta confusão de tanto facilitismo e nem o GPS me dá informações plausíveis. Vê lá tu que me diz "Destino desconhecido" como se tu fosses um destino. Como se me fosses desconhecido. Conheci-te toda a minha vida. Tenho em mim os teus cheiros e os teus toques. Tenho-te em mim. Sei que sim. Mas não consigo encontrar-te e procurar-te torna-se a cada dia que passa uma busca interminável digna de cavaleiros que em tempos preocuparam-se em encontrar o graal.
A minha tarefa é bem mais árdua, bem mais difícil.
É encontrar-te.
Continuo a palmilhar as artérias desta cidade que é já sem coração porque eu perdi o meu quando te perdi.
Continuo a procurar por ti desesperadamente para voltar a dar à cidade que já nos viu aos dois um novo palpitar, um novo pulsar, uma nova vida.
Procuro-te nos becos que de tão cinzentos acabaram por ficar sem saída e é por isso que tenho que voltar atrás, sempre a voltar atrás ao ponto de partida. Ao ponto da nossa despedida que não foi um Adeus mas sim um até já e quando me virei não te vi mais e quando tu te viraste já não me encontraste.
Anseio pelos teus braços enquanto corro que nem uma maluca pelas estradas fora, a ignorar os sinais que me mandam parar, a ignorar as pessoas que me dizem que me posso magoar, contra ordens e contra restrições vou dando uma nova esperança a quem me vê passar, a quem sabe pelo que eu estou a passar.
Sinto a cada passo que estou cada vez mais perto.
Sinto no coração um novo pulsar e isso só poderá querer dizer que te estou quase a encontrar.
Sinto! E apenas isso me faz continuar!!


Fotografia: Roads, sun.. and a bird by Anitya
(All rights reserved)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

É verdade pois!


Quero-te com a calma das manhãs sonolentas
Quero-te com a força das gargalhadas
Quero-te com a doçura do fim dos dias
Quero-te sem mais


Fotografia: This my love story VIII by Mehmet Turgut
(All rights reserved)

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Amores perdidos


Pousou suavemente o queixo na palma da mão como quem pousa um recém-nascido no berço. A sua mão em forma de concha acolheu carinhosamente o seu queixo. Deixou-se ficar ali. Parada. Imóvel. O seu olhar atirado para lá do vidro do café que alcançava não sei bem o quê. Tentei olhar na mesma direcção para onde o seu olhar se dirigia mas dei por mim incapaz de afastar os olhos dela.
Sozinha na mesa, com as pernas cruzadas e sentada meio de lado, meio de frente encontrava-se iluminada pela sua própria paz. Olhava o mundo que corria que nem louco lá fora, as pessoas a correrem para se abrigarem da chuva que começava a cair, os carros que aos poucos e poucos acendiam as luzes como se de uma árvore de natal global se tratasse e os seus olhos presos àqueles movimentos, presos àquelas pessoas, presos às gotas de água que caiam suavemente. Tudo em harmonia como se de um enorme bailado se tratasse.
Os seus olhos pareciam ser os maestros da música que se ouvia. Os chapéus de chuva que se abriam, as gotas que se suicidavam contra os toldos, o pára e arranca dos carros, uma e outra buzinadela. As vozes mudas das pessoas intercaladas pelos passos apressados.
Foi ali que me apaixonei da maneira mais perdida.
Foi ali que amei da maneira mais sentida.
Foi ali que me entreguei como nunca me entreguei na vida.
Com aquele simples gesto, com aquele simples olhar.
Nunca mais a vi.
Mas guardo, como a um tesouro, o amor que senti.


Fotografia: Rainy day in Amsterdam by Denis Grzetic
(All rights reserved)

shhiuu


Shhiuu..... não digas mais nada...

O silêncio, por vezes, também é bom de se ouvir!


quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Medos




Dos fantasmas que nos acompanham apenas pudemos guardar deles o mais valioso a guardar.
Há que colocar os medos de lado, enfrentá-los de frente e acima de tudo não mostrar o medo.
Descobri o que sempre soube. Há demasiados fantasmas na minha vida. Demasiados mesmo. E sempre fugi deles. E quando o medo era aterrador e me petrificava limitava-me a fechar os olhos enquanto tremia de medo apenas ansiando por um abraço que me protegesse, por uma voz que me acalmasse.
Os meus fantasmas perseguem-me por muito que eu evite pensar neles. E não precisa ser de noite e eu estar na cama para vê-los. Basta estar distraída e logo me vêm os piores da estripe. Os que realmente me magoam. Os que me ferem de morte. São estes os fantasmas que eu andei uma vida a evitar e outra a acumular. Os que me acompanham nas noites frias já não me fazem grande diferença, excepto fazerem um bocado de companhia.
São os fantasmas do passado que me magoam. Magoam-me fazendo-me lembrar e magoam-me quando condicionam a minha forma de agir.
Ao longo dos anos tenho sido um bicho-do-mato, mas um bicho feroz. Que ataca muitas vezes antes de ser atacado e que assim perde a possibilidade de ser acarinhado. Que foge quando vêm atrás e que depois, quando desistem desata a correr quando é já tarde de mais. Um bicho que logo à primeira tenta afastar e que só muito dificilmente se dá. Que diz que não quer apenas para não se deixar 'tocar', para não se deixar 'amar'.
Os meus fantasmas perseguem-me e alturas houve em que era eu quem não os deixava partir.
Chegou a altura de os enfrentar, fechar o armário e começar a andar.
Dentro de mim guardo o que é bom de se guardar e uso isso para continuar a caminhar!


Fotografia: Ophelia by Zemotion
(All rights reserved)

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Os Meus Pensamentos são Todos Sensações


"Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz. "

Fernando Pessoa, in "O Guardador de Rebanhos - Poema IX"

Fotografia: StephM3 by Lawrencew
(All rights reserved)

Inspiração


É assim como uma espécie de vulcão em erupção... mas sem entrar em actividade. Quer dizer activo mas sem estar... Naqueles momentos precedentes, onde está tudo latente, onde está tudo quase, onde se encontra na iminência.
É como estar num semáforo parado e sabermos que o verde está quase a cair. O estarmos já a fazer o ponto de embraiagem mas ainda sem arrancar.
O estar à beira do abismo e apenas um passo bastar para marcar a diferença. A diferença entre estar vivo e estar morto.
É nesse limbo que me encontro. Não entre a decisão do ser e não ser. As questões ontológicas nem sempre são as que mais me preocupam. Mas é nesse momento de passagem que eu me encontro. Entre o latente e a erupção. Entre o parado e o arranque. Entre um passo e uma queda vertiginosa.
Sinto-te em mim. Dentro de mim. Sinto-te a ocupar o lugar que é meu. Sinto-te aos poucos a alastrares, a ganhares território, a ganhares velocidade, forma, matéria, peso, volume e ao mesmo tempo sinto que é um processo que ainda não se encontra terminado. Que precisa de acabar para re-começar.
Sinto-te dentro de mim em pequenas ondas de actividade sísmica, em pequenos tremores, em pequenos picos. Degrau a degrau vais subindo as escadas do meu ser e eu impávida deixo-te entrar, deixo-te conquistar, deixo-me quieta à espera do que virá.
Eu sei que mais cedo ou mais tarde o teu processo irá terminar e quando chegar o momento certo, o segundo mais preciso e também o mais precioso sei que aí, nesse exacto momento, irás me dar um qualquer sinal que se irá reflectir numa vontade urgente, emergente, de fazer aquilo que queres que eu faça.
Quando esse momento chegar irei encontrar-me exactamente onde me encontro agora e começarei a escrever as palavras que me começarás a ditar.


Fotografia: Window by Lawrencew
(All Rights reserved)

Red line



Por vezes o que nos parece ser óbvio surpreende-nos...


Fotografia: Thin red line by Lawrencew
(All Rights reserved)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

As palavras que hão-de chegar


Amassaram-me o espírito
cansaram-me o corpo
e agora encontro-me assim
Nua de palavras
despida de frases
sem consoantes ou vogais
sem forma de comunicação
sem conseguir chamar-te à atenção
sem conseguir dizer que preciso de ti
Violaram-me e tiraram-me todos os sinónimos
retiraram-me os antónimos
e deixaram-me sem voz
e eu fiquei só
sem te conseguir explicar
que era dos teus braços que estava a precisar
Fiquei sem palavras
fiquei sem conceitos
e no silêncio me deito
à espera das palavras que hão-de chegar.
(02/10/2008)

Fotografia: Suffocate by Deyan Stefanov
(All Rights reserved)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Uma questão de dias


Há dias em que perguntarem-nos como estamos e ficarem à espera da resposta faz toda a diferença!
Há dias em que a ausência da pergunta faz uma diferença abismal!


Fotografia: Further by UltraViolet
(All rights reserved)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

E dito isto...



It´s official!
It´s a platonic thing...
Don't worry... after all it can happen with anyone




Fotografia: Emptiness by Duarte Gonçalves
(All rights reserved)

Sinais


Fôssemos todos sinais de trânsito
semáforos de preferência
Onde o Verde é mesmo verde
e percebemos logo à primeira que é para avançar
Onde o amarelo é sempre amarelo
e diz-nos para não arriscar
E onde o vermelho só quer dizer uma coisa
que temos mesmo que parar!


Imagem: Desiree y el semaforo by Marta Altieri
(All rights reserved)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Será?


São pequenas coisas
pequenos andamentos
pequenos movimentos
pequenas diferenças
que fazem a vida valer a pena
Mas as coisas temos que ser nós a encontrar
os andamentos nós a percorrer
os movimentos nós a fazer
para que esse valor lhe consigamos dar
São pequenas coisas
pequenos andamentos
pequenos movimentos
pequenas diferenças
Que nos fazem sonhar!


Fotografia: StephanieAnne Ghosts nº 1 by Scott Nichol
(All rights reserved)

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Hábitos


Tive que sorrir para mim mesma...
Não tive mesmo outra hipótese!
Ia-me levantar para me dirigir até à varanda
num gesto mecanicamente memorizado
que pelo hábito foi no próprio corpo gravado
E por isso tive que sorrir
ia naturalmente fumar um cigarro
quando me lembrei que tinha parado!
Há hábitos que o corpo não esquece
por muito que a cabeça o lembre.


Fotografia: Smoking. No by Dmitroza
(All rights reserved)

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Aimee Mann



Queria poder estar amanhã no Coliseu dos Recreios a ouvir a Aimee Mann...
Tudo bem que o Dinheiro pode não trazer felicidade...
mas neste momento faz-me uma pessoa muito menos feliz!!!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Mar


Afastadas as nuvens dou por mim a sorrir por um minuto

sentindo o sol que me aquece o rosto deixo-me ser feliz por um segundo
e de repente tenho saudades do mar
Apetece-me ir à praia... já isolada, já sem ninguém
e deixar-me ficar ali sentada meramente a olhar
meramente a cheirar
meramente a sentir
De preferência que esteja um bocado de frio
mas com o sol ainda a brilhar
para me sentir assim quente
para me sentir assim abrigada
para me sentir assim em paz.


Fotografia: Hispaniola by Michal Karcz
(All rights reserved)

Verbo Sentir


Eu sinto
Tu sentes
Ele sente
Nós sentimos
Vós sentis
Eles sentem

Se é assim tão simples para quê complicar?


Fotografia: When you burn inside by Nuclear Seasons
(All rights reserved)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Prémio


O Prémio Dardos reconhece o valor de cada blogger ao transmitir valores culturais, éticos, literários ou pessoais e que de alguma forma demonstram a sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto naquilo que escrevem. Por outro lado, esta é também uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.
Quem recebe o Prémio Dardos e o aceita deve seguir algumas regras:
1. - Exibir a imagem;
2. - Linkar o blog pelo qual recebeu o prémio;
3. - Escolher quinze outros blogs aos quais entregar o Prémio Dardos.


O meu veio da Nikky a quem agradeço. Um Blog a visitar!!! Sem dúvida!
O grande problema, aliás, de ter sido a Nikky a dar-me o prémio é que assim eu não posso atribuir-lhe o prémio!
Quanto aos 15 blogues... bom esta menina não visita assim tantos mas dos que visita os que me parecem ser merecedores deste prémio são os seguintes:

1. Kruella
2. Palavras Consentidas
3. Raios & Corriscos
4. Quotidiano

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Cores


Não é meramente uma questão de conceitos, de nomes, de definições.
É o sabermos que é um reflexo do que somos. Que é uma projecção que acaba por ganhar vida própria e que chega mesmo a escapar-nos muitas vezes.
Sei que não sou um arco-íris e que a minha tonalidade é mais o cinzento.
Mas mesmo dentro do cinzento há diferentes escalas de cores.
Não sou colorida.
Não é uma questão de conceito.
É mais uma questão de quem sou!


Fotografia: Drops IX by Denis Grezetic
(All rights reserved)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Castaway



Que nem náufrago em mar alto vou de vela improvisada
de vela içada a deixar-me levar.
Vou sem leme e sem rumo a esperar por boas marés
a esperar atracar em porto seguro
Que nem naufrago perco por vezes a sensação de solidez
a sensação da terra nos meus pés
a sensação de estar segura
e tal como naufrago vou revendo os reflexos desconhecidos
o desconhecido do meu reflexo
distorcido por pequenos salpicos
Vou sem rota delineada e deixo a minha sorte à sorte
deixo o meu futuro à deriva
e deixo que o vento dite a minha fortuna.


Fotografia: Castaway by Victor de la Torre
(All rights reserved)