quinta-feira, 30 de abril de 2009

A ver vamos...


Pois é. Na foto somos nós! Ainda somos nós! Na próxima segunda-feira poderei ser já só eu!
Eu explico:

Vamos amanhã os três para um monte que ouvi dizer que fica no meio de nenhures.
Levo o Requy (e cheira-me que me vou arrepender porque há pessoal que tem medo... se bem que eu também tenho medo deles e isso não é impeditivo).
Eu já disse que o ia soltar, deixar correr solto e em plena liberdade por aqueles campos fora (mas não sem antes lhe tirar toda e qualquer identificação he he he).
Agora quero ver se as aulas do COB (Curso de Obediência Básica) deram ou não resultado e se depois de tantas aulas o cão ganhou finalmente inteligência.
Das duas três:

- se ele voltar é porque é mesmo burro
- se não voltar é porque é mesmo otário
- se voltarem os dois e me deixarem lá atada a uma árvore mostra que pelo menos um dos dois é inteligente!

Vamos ver quem vem postar aqui na segunda!

Fotografia: Cão e dona em exame para COB depois do cão ter sido atacado por um Rottweiler no exercício do Fica! O cão passou... eu chumbei! ;)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Flores


Ontem no IndieLisboa estava a ver o Cungking Dream quando um dos intervenientes diz mais ou menos o seguinte:

As pessoas são como flores. Deus criou as flores como criou os homens. Amarelos, pretos, brancos... grandes, pequenos... narizes grandes, narizes pequenos.
São flores.

Nunca tinha pensado nas pessoas nesses termos. Nunca tinha feito nem ouvido fazer tal analogia.
Mas achei a comparação das mais bonitas que já ouvi.

Como sabe bem ouvir algo pela primeira vez!

terça-feira, 28 de abril de 2009

Mas fazem toda a diferença!


Podem-me dizer que são as pequenas coisas que contam
Eu só digo:
São pormenores!


Vou tentar...



Perdoem-me a falta de palavras
a falta de abraços
a falta de sorrisos
a falta de conversas
Perdoem-me andar pelas avessas
andar sem estar
estar sem aparecer
Perdoem-me o não conseguir ser
o que vocês esperam que eu seja
Perdoem-me não ser quem vocês queriam
por vezes também eu sou quem não quero
Perdoem-me por estar caladinha
por ser low-profile
por ser má companhia
Sou apenas quem sou!
Perdoem-me pelas vossas expectativas
pelos vossos anseios
Perdoem-me pelos vossos preconceitos
e por isso me deixar sem jeito
Perdoem-me pelo passado mal fadado
pelas relações que não duram
e até pela chuva
Perdoem-me por ser nova, por ser morena, por ser loura
pela cor e pela textura
por ser uma ruptura
por não ser igual
Perdoem-me se for possível perdoar
eu prometo que vou tentar!


Fotografia: My Duality by Martin Stranka
(All rights deserved)

terça-feira, 21 de abril de 2009

Não mais lembrar


Escrevia freneticamente como se isso a fosse acalmar, como se as letras desenhadas no seu teclado fossem de alguma maneira partes de um calmante.
Escrevia freneticamente como que a querer transpor para o texto a sua raiva e a falta dela, a sua tristeza e a falta dela, a sua indignação, a sua confusão, a sua complicação.
Escrevia freneticamente como se assim, se fosse rápida o suficiente, se fosse ágil, como se isso lhe trouxesse audacidade, como se isso lhe trouxesse coragem como se isso lhe trouxesse o que faltava agora à sua vida e que ainda não tinha as palavras certas para dizer o que era.
Escrevia freneticamente como se isso a deixasse deitar mãos ao pensamento e assim ter mãos neles.
Escrevia freneticamente porque não sabia outra maneira de escrever tal como não sabia outra maneira de viver.
Escrevia freneticamente na esperança que isso ajudasse a mudar as coisas, a mudar os sentimentos, a mudar tudo o que já tinha acontecido e assim mudar o rumo das coisas por vir.
Escrevia freneticamente porque queria este fluir constante de mudanças, queria as alterações, as modificações. Queria a vida diferente, ser outro tipo de gente e por vezes nem queria mesmo ser pessoa.
Escrevia freneticamente para ao mesmo tempo que ficava escrito ficar também logo tudo esquecido.
Queria não mais lembrar.
Queria não ter o que esquecer.


Fotografia: Holocaust memorial by Toko
(All rights reserved)

Só porque a alma o exige...


Não sou maria chorona. Aliás não sou mesmo de chorar.
Se choro é porque preciso. É porque o corpo o pede. É porque a alma o exige.
Não sou de chorar. Sou de guardar. Sou de disfarçar. Sou de mascarar. Mas não sou de chorar.
Se as lágrimas me escorrem pelo rosto é porque não poderiam mais estar na indecisão. É sempre porque o corpo pede e porque a alma o exige.
Não sou de chorar. Mas sou capaz de o fazer se vir uma imagem bonita, se ler palavras que me tocam, por todos os motivos e por nenhum.
Não sou de chorar e raramente choro nos momentos certos. E por isso basta uma outra coisa qualquer e eu desato a chorar porque não suporto o peso, porque aproveito aquele momento de catarse para desabafar... para desabar.
Não sou de chorar.
Mas hoje não me mostrem nada de bonito e não me dirijam a palavra senão desato a chorar!

Fotografia: Don't by Marcin Janocha
(All rights reserved)

Porque às vezes é preciso calar!


Chega de palavras meigas!
Chega de palavras cheias de emoção
cheias de ilusão
Chega de imagens que nunca foram fotografadas
mas que deixaram para sempre a sua marca
deixa-me tentar ao menos arrancar as palavras
tirar-lhes o seu contexto
deixá-las perdidas e sem nexo
Chega de palavras doces
dos beijos e dos beijinhos
do "seremos para sempre amigos"
do futuro sem condições
e das suas contradições
chega de ilusões
Chega de palavras faladas
de palavras escritas
de palavras sentidas
Chega de palavreado
do sentido e do mal floreado
chega das palavras ocas
das palavras vazias
das palavras que eu um dia amei
das palavras que esqueci
e das palavras que detestei
Chega de palavras
das suas consoantes e das suas vogais
dos seus espaços e dos invertebrados
dos sinónimos e dos antónimos
das regras gramaticais
das facadas e dos erros
chega até de tanto enredo
de tanta complicação.
Chega de escrever
chega de ler
chega de ter informação a entrar
chega de me sentir sempre a lutar
chega de remar
de remar contra as palavras
de remar contra os sentidos
de remar contra nada
Chega de palavras
das bonitas e das feias
das que nos fazem rir e chorar
das que nos fazem sonhar
Chega de palavras
e é por chegar
que vou acabar!


Fotografia: kenan dogulu olmaz IV by Mehmet Turgut
(All rights reserved)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Coristas


Lembram-se de a história de a menina querer entrar para um Coro?
Não se lembram? Pois eu também não me queria lembrar mas... alguém não me deixou esquecer!

Fui. Enchi-me de coragem e fui!
E como o prometido é devido aqui fica o registo:

Resumindo uma história que pode ser um bocado longa e dolorosa numa história curta e dolorosa à mesma aqui ficam os pontos principais a reter:

- Não era o Coro Gulbenkian!
- Eu já sabia que era um coro amador mas não estava à espera que fosse tão amador!
- Eu seria a mais nova do grupo.
- Eu seria a mais nova do grupo por uns bons vinte anos.
- Eu teria que pagar cotas.
- A maneira que o coro tem de ter verbas é cantando em casamentos.
- As verbas são para dar passeios que os coristas têm mais do que tempo para irem porque estão praticamente todos na reforma.
- descobri (mesmo sem cantar) que é coisa para ser um Contralto!

Acabei por nem fazer o teste de admissão mas fiquei com a ideia de que cantasse eu mal ou bem entraria à mesma porque sempre era uma dinheirinho extra.

Acho que descobri que o melhor mesmo é manter a minha voz confinada às paredes da casa da menina e deixar-me de tretas!

E só com esta decisão o Mundo parece já um melhor sítio para viver!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Memória e a falta dela


Esta pequena é, como já descobriram, a Roisin Murphy!
Descobri que tenho dois álbuns dela no meu PC.
Hoje a tentar descobrir qualquer coisa que me apetecesse ouvir enquanto respondo ao Inquérito tecnológico que o INE me enviou (e que tratou de deixar bem claro que é de carácter obrigatório) dei com a pequena e decidi ouvir!
Estou a gostar! Som simpático até!
Ainda estou para descobrir como é que a pequena descobriu o caminho até ao meu PC pois não me recordo de todo mas ainda bem que descobriu!

O Rappa


Amanhã no Pavilhão dos Lombos em Carcavelos (e não no Sábado na Pala das Docas como inicialmente previsto) lá vamos nós ver O Rappa!
Aqui a menina só espera estar melhor das costas que isto de ir meia inquinada para um concerto não tem nada a ver com nada.
Mas deve ser só para estar de acordo com a música deles "O novo já nasce velho"!!!

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Devagar para não magoar



Desceu as escadas devagar. Toda a sua atenção presa a cada passo que dava. De orelhas arrebitadas (expressão que a fazia rir pois sempre a lembrava de cães patuscos de orelhas pontiagudas) lá ia dando atenção a cada gemer da madeira que reclamava por uma noite descansada e isenta de pés descalços a sorrateiramente pisarem-lhe as costas.
Era-lhe inevitável dar características humanas às coisas que a rodeavam, só assim podia sentir-se contextualizada, podia fazer parte do quadro.
O pai sempre lhe dissera que era importante estar enquadrada, estar contextualizada. Seguir rotinas, imitar padrões. Quando era mais pequena estas conversas metiam-lhe medo. Estar enquadrada era para ela ser quadro pendurado numa parede. Ser algo esquecido. Seguir padrões já era algo mais divertido e que a fazia sonhar. Imaginava-se a correr desenfreadamente atrás de padrões... axadrezados, listados... invariavelmente ria-se como só uma criança sabe rir até ao momento em que reparava que o pai continuava a falar com ela com um ar muito sério e compenetrado e ela voltava ao abanar da cabeça afirmativamente ao mesmo tempo em que automaticamente lhe saia da boca um "Sim pai!".
As conversas terminavam sempre do mesmo modo, para ela sempre enigmático, em que o pai com um olhar triste (demasiado triste pensava ela) lhe dizia "Não queres ficar como a mamã pois não?!" e ela acenava que não com a cabeça mas sem perceber porque concordara sempre com o pai.
Da mãe tinha a imagem de uma mulher feliz, despreocupada, sorridente. Capaz também ela de correr atrás de padrões, capaz de se imaginar quadro, capaz de ter medo de magoar as costas dos degraus de madeira, de suavemente tocar no móvel da entrada quando entrava em casa e desejar-lhe bom noite, capaz de dar festinhas no sofá enquanto nele se encontrava deitada. Percebeu cedo que herdara todas estas coisas da mãe e desde sempre fizera tudo para o esconder do pai.
Durante anos continuou a acenar que não ao pai e a fingir ser algo completamente diferente da mãe.
Deixou de fingir no dia em que foi na madeira que enquadrava o pai que deu as últimas festas. Terminou quando acariciou aquele rectângulo de madeira maciça pela última vez como se da pele do pai se tratasse.
Passados muitos anos percebeu que afinal não tinha terminado.
Ali estava ela, de camisa de dormir até aos pés e o cabelo já todo grisalho a descer as escadas com cuidado e doçura para não magoar as costas dos degraus de madeira, a acariciar delicadamente o vão da escada, a sonhar que corria atrás de padrões e a sentir-se feliz por nunca ter sido enquadrada num!


Fotografia: Alice in the Midnight Game by Zhang Jingna
(All rights reserved)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

...



Passou-lhe a vida ao lado e as palavras que ficaram por dizer ficaram
perdidas para sempre no espaço entre os sons, perdidas entre as vogais e
as consoantes, perdidas de sentidos.
Passou-lhe a vida ao lado e foi quando quis de facto falar que a voz lhe
faltou, foi exactamente no momento em que se quis chegar à frente que
lhe faltaram as forças ficando a ver o resto do mundo que passava ao seu
lado sem reparar na sua presença.
Viu-se assim de mão atadas, de pés atados, de palavras atadas.
Viu-se assim limitada e quis maldizer a vida, quis mandar para o inferno
os deuses, quis ir ela própria para o inferno.
Viu-se assim velha e envelhecida, perdida e esquecida e quis poder
voltar atrás, quis escalar as montanhas que olhava de longe, quis cantar
as notas que ficaram por ecoar nos caminhos que percorreu a custo, quis
não ter chorado tanto os amores e ter-se dado a amar mais, quis ter
vivido mais a vida em vez de perder o tempo a negá-la, quis ter cantado
mais em vez de desgastar a voz a amaldiçoar o que só dela poderia
depender para melhorar.
Passou-lhe a vida ao lado e dava-se conta disso no exacto momento em que olhava a morte de frente! Não nos olhos que isso é característica importante demais para atribuir a algo que ceifa vidas de um modo tão arbitrário, mas de frente que o respeito é bonito!
E foi nesse confronto, foi nesse momento em que se encontrava de frente para a morte, em que se encontrava de frente para o passado e para a impossibilidade de futuro que sentiu uma enorme falta de ar, uma aflição medonha, um medo indescritível. Foi nesse exacto momento que de um salto saiu da cama ainda meio azamboada com o sonho que tivera.
Sentada na beira da cama pensou que aquele sonho tinha sido um aviso, que não o podia ignorar.
Estava na altura de agarrar na sua própria com as suas próprias mãos!
Lá fora o dia começava a clarear.
Ela sentindo-se cheia de força sentiu-se ela própria a renascer.
Passado uns minutos voltou a deitar-se dando como terminada a luta que estava a combater com o sono.
Amanhã meteria mãos à obra hoje estava demasiado cansada.
E assim deixou passar mais um dia!


Imagem: Thank God for mental Illness by Petitescargot
(All rights reserved)

De intenções...


Se o que conta é mesmo a intenção
o que vem directamente do coração
então sorriem e deliciem-se
com um texto maravilhoso
embelezado por uma bela fotografia!
Se o que conta é a intenção
então pasmem-se com a perfeição
maravilhem-se com o indizível
e congratulem a sua escriba
Se o que conta é a intenção
fechem os olhos e sintam a emoção
de terem sido abraçados com tamanha sofreguidão
por um texto que nem foi começado
mas que teve essa intenção!


Fotografia: Sila II by Mehmet Turgut
(All rights reserved)