Eu sou isto...

As peças unem-se como que unidas por pequenos e invisíveis ímanes. Foi o que se arranjou! Sem pena ou desagrado olho-me ao espelho e nem percebo qual destas partes é a que me identifica. Qual destas partes é a que deverei mostrar caso alguém me pergunte "Quem és tu?"
O que poderei responder a esta pergunta? O que dizer? Como definir o que sou numa frase? Numa simples frase?
Serei apenas isso?
Não! Olho-me agora ao espelho e vejo mil e uma peças, todas diferentes. Sorrio a pensar que tenho todas as modas, todas as estações, todos os humores num mero corpo. Afinal não sou menos. Sou mais!
As peças encontram-se unidas, fragilmente unidas. Sem colas, sem parafusos... como se fosse a vontade própria deste amontoado manter-se assim... unido, uno. Os ímanes encontram-se aqui mais como adornos do que propriamente como segurança, como símbolo de união. Mas também... não há símbolos de união, já quase que não há símbolos. Não que simbolizem alguma coisa que valha a pena colocar num símbolo pelo menos.
Eu sou isto que aqui se encontra. Este monte caótico de pequenas pautas harmoniosas. Mil e uma peças... quinhentos pares de pecinhas que nunca estão de comum acordo por causa daquela outra... uma luta constante pela busca de algo pelo qual já ninguém luta. Um constante debate pelas ideias e pelos ideais... ou outros que tais...
Eu sou isto que aqui está.
Mas nunca perguntem quem eu sou...
a esta pergunta apenas posso dizer
"Eu sou isto que aqui está!".


Imagem: Mrs Me and Mrs I by Marianne Le Carrour
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