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Passam os dias, passam as horas
e o relógio marca o tempo de sempre
o tempo que já foi e o que virá
nele vemos o futuro que se aproxima
e num tic-tac contínuo deixamos sempre um outro tempo ficar para trás
Na dualidade destes momentos continuamente passados
constantemente presentes
e eternamente a antecipar
vamos vivendo...
vamos tropeçando nos ponteiros dos relógios
arrítmicos, descompassados, fora de tempo
Num mundo de relógios diferentes
cada um marca o seu próprio ritmo
e o barulho torna-se ensurdecedor
Se um relógio pára torna-se enlouquecedor
E se nos fixarmos nos ponteiros sentimo-nos a tremer
É o tic-tac que nos impele, que nos derrete, que nos faz recuar
é o constante movimento que nos leva a querer parar
e é a paragem que nos faz querer mover.
São os tempos em que vivemos
todos eles diferentes
nunca ao mesmo tempo presentes
mas no mesmo relógio confinados.
São os nossos ponteiros, sempre só nossos
na nossa parede pendurados
Nós somos a parede, os retratos e as recordações
um misto interno de emoções
um tic-tac nunca acabado, nem sempre o idealizado
mas o que nos faz ter ambições.
Ambicionamos um mundo melhor
uma vida melhor
uma conta melhor
e no fundo nem percebemos
que tudo se resume a um relógio
que deveria ser acarinhado
que deveríamos aprender a escutar!
Fotografia: No face clock by Lein
(All rights reserved)