segunda-feira, 4 de junho de 2012

Deixou-se ficar ali sentada.
Imóvel.
Horas
À espera.
O móvel, de madeira escura, quase preto
igual a tantos outros móveis
em outras tantas casas
Dividido em dois módulos
no alto o telefone com a sua enorme roda, os números já sujos dos dedos descuidados que rodaram a roda da sorte
muitas vezes sem sorte nenhuma
o telefone em cima de um napperon, oferta da avó para o seu enxoval
o enxoval que chegou a ouvir dizer entre janelas que era mal aproveitado
que aquela ia ficar para tia
ela era aquela
e as palavras trocadas entre janelas entravam-lhe por entre os ouvidos
ou pelos ouvidos e ficavam a pairar ente eles
Rapidamente as palavras saíam
mas o napperon ficou
fosse como fosse a ela davam-lhe jeito aquelas coisas
os panos e os lençóis de linho branco
imaculados
bordados
(ela não gostava dos bordados).
mas deixou-se ficar ali sentada
na segunda parte do móvel que tinha mesmo essa função
a de servir a quem nele se quisesse sentar
quem nele quisesse esperar
E ela esperou
esperou pelo telefonema que nunca chegou
pelo toque
pelo aviso
Cansada de esperar, levantou-se num ímpeto
deixou-se ficar de pé
ainda a balouçar das tonturas
e pensou
que a vida era tramada
se se espera... perde-se o momento
se nos levantamos... trememos das pernas...
sorriu
abriu a porta e saiu.


2 comentários:

RaquEL disse...

Já tinha saudades destes escritos (=

Bj do tamanho do mundo!

Sandrine disse...

Lindaaaaaa :)

Beijo grande