Na urgência de agarrar as palavras certas peguei nas consoantes erradas. Agora tenho mil e um fragmentos do abecedário e não lhes consigo encontrar sentido.
Agarro nas consoantes e tento juntar-lhe as vogais, mas não passam de 'ui's' e de ai's e desisto de juntar o que não pode ter união.
Deixo-as a repousar como eu me lembro de ver a minha mãe fazer à farinha depois de lhe juntar o fermento. Deixo tudo a descansar com uma mantinha a tapar.
Deixo tudo a abafar e a fermentar e passadas umas horas volto a tentar.
Volto ao emaranhado de consoantes e de vogais e percebo que falta algo. Volto à receita que nunca li, aos ingredientes de que nunca ouvi falar e junto-lhe vírgulas e ífens, pontos finais e reticências e volto à penitência.
Misturo tudo muito bem misturado, chego a dar murros àquela estranha manta de retalhos e volto a deixar repousar.
Deixo tudo a abafar e a fermentar e passadas umas horas volto a tentar.
Aos poucos o emaranhado ganha consistência.
Aos poucos ganha sabor e começa a apelar aos sentidos.
Agarro em consoantes e junto-lhe as vogais. No tabuleiro aparecem-me as palavras feitas. Pego nelas e com todo o cuidado junto-lhes a pontuação. Faço-o com amor e dedicação. E dito ao vento as palavras que mesmo sendo banais vêm do coração.
Aos poucos tenho um tabuleiro cheio.
Levo-as ao forno e quando lhes sinto o aroma no ar retiro-as devagar.
E assim se fez um texto!
Agarro nas consoantes e tento juntar-lhe as vogais, mas não passam de 'ui's' e de ai's e desisto de juntar o que não pode ter união.
Deixo-as a repousar como eu me lembro de ver a minha mãe fazer à farinha depois de lhe juntar o fermento. Deixo tudo a descansar com uma mantinha a tapar.
Deixo tudo a abafar e a fermentar e passadas umas horas volto a tentar.
Volto ao emaranhado de consoantes e de vogais e percebo que falta algo. Volto à receita que nunca li, aos ingredientes de que nunca ouvi falar e junto-lhe vírgulas e ífens, pontos finais e reticências e volto à penitência.
Misturo tudo muito bem misturado, chego a dar murros àquela estranha manta de retalhos e volto a deixar repousar.
Deixo tudo a abafar e a fermentar e passadas umas horas volto a tentar.
Aos poucos o emaranhado ganha consistência.
Aos poucos ganha sabor e começa a apelar aos sentidos.
Agarro em consoantes e junto-lhe as vogais. No tabuleiro aparecem-me as palavras feitas. Pego nelas e com todo o cuidado junto-lhes a pontuação. Faço-o com amor e dedicação. E dito ao vento as palavras que mesmo sendo banais vêm do coração.
Aos poucos tenho um tabuleiro cheio.
Levo-as ao forno e quando lhes sinto o aroma no ar retiro-as devagar.
E assim se fez um texto!
Fotografia: Words by Linus
(All rights reserved)
8 comentários:
E tu que não tens grande jeito para a cozinha....
Quando eu te contar uma conversa que tive ontem vais-te desatar a rir por teres dito isso!!! :)
Pois não...mas nestas receitas nem me costumo sair muito mal... espero!!! ;)
Tens de ir espreitar o nosso blog de "cozinhados"! :D
Podes não cozinhar bem com panelas, mas desenrascas-te bem com o teclado :)
Parece-me bem, sobretudo, o toque de amor e dedicação que vem do coração .)
XinXin
Lança: Já espreiteimas como disse a raquel (e muito bem! há que admiti-lo) eu de facto na cozinha não sou grande bisca!!! ;)
Precious: Obrigada!! Ao menos isso não é? :D
Dry-Martini: Tem que ser sempre sentido caso contrário não vale a pena ser dito! ;)
Lindo texto
Rafael: Muito obrigada! :) E já agora votos de um bom Ano!!! Aparece sempre! :)
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