"Trazer-te no peito é uma bagagem muito pesada para transportar."
Ficou ainda de boca entreaberta como quem ainda tem mais a dizer, eu penso que fosse mesmo o cansaço, fosse o ganhar fôlego para continuar. Por vezes para conseguir transportar as coisas de dentro para fora, trazê-las do mundo imaterial do pensamento para o mundo concreto da palavra falada é uma tarefa difícil. É dar vida, é tornar as coisas reais e isso tem que doer, tem que cansar.
"Não é que não te queira trazer comigo. Não é que possa sequer não o fazer... mas não no coração. É um órgão muito fraco para lhe pedir tal tarefa. Talvez num outro lado..."
Parou e ficou a olhar lentamente para o seu próprio corpo como quem procura uma solução para a guerra no mundo. Dei por mim a seguir o seu olhar e a pensar se ela pensaria me 'carregar' na perna que tantas vezes acariciei, ou nos braços que tantas vezes tive nos meus... na barriga? Sim, como ela adorava sentir a minha mão a passar ao de leve na barriga, ou na nuca, ou no lóbulo da orelha que tantas vezes beijei... Ela ia olhando para o corpo à procura de soluções, à procura de espaço e eu fiquei em suspenso sem saber onde seria o meu lugar mas definitivamente a sentir que não era ali.
Sentia-me a ocupar espaço a mais, sem espaço para estar. O ar entrava-me pelas narinas e sabia a gelo tal era o frio que sentia ao constatar que não tinha espaço, ao constatar que não podia mais respirar, que não me podia mais mexer, que nem a conseguia mais ver...
"Mas trazer-te no peito é uma bagagem muito pesada para transportar... trazer-te aqui é negar-me a transportar mais alguém, é fechar portas, é fechar janelas, é fingir para mim própria e dizer-me que não posso mais amar..."
Não lhe respondi e senti que nem o podia fazer... imóvel continuei a ouvir as palavras que ela teimava em dizer... percebi que as precisava de dizer mesmo sem saber que eu as estava a ouvir...
"No peito não! A ti não! Não posso... vou trazer o nosso amor, todo, todos os nossos dias, todas as nossas loucuras, todas as nossas discussões. Vou guardar o teu bolo de chocolate queimado e o cheiro que teimou em não sair da nossa casa, vou guardar as gargalhadas, vou até guardar as lágrimas mas não te posso mais trazer no peito. Vou guardar o teu cheiro como se fosse o meu mas não posso mais trazer-te no peito. Vou amar-te como sempre te amei mas no peito não posso... é um peso demasiadamente grande. Vou-te amar sempre meu amor mas não te posso trazer mais comigo. Chegou a hora de te deixar partir..."
Levantou-se e virou-me as costas... não deixou flores, nunca as trouxe, sabia que eu detestava esse ritual mórbido. E eu deixei-me ficar e optei por partir.
Percebi que durante aquele tempo todo ela sempre me sentiu, eu era a ausência feita presença e o que ela me quis dizer eu de repente percebi... "Amor foste tu quem morreste e tenho que continuar sem ti. Deixa-me ser feliz!"
Ficou ainda de boca entreaberta como quem ainda tem mais a dizer, eu penso que fosse mesmo o cansaço, fosse o ganhar fôlego para continuar. Por vezes para conseguir transportar as coisas de dentro para fora, trazê-las do mundo imaterial do pensamento para o mundo concreto da palavra falada é uma tarefa difícil. É dar vida, é tornar as coisas reais e isso tem que doer, tem que cansar.
"Não é que não te queira trazer comigo. Não é que possa sequer não o fazer... mas não no coração. É um órgão muito fraco para lhe pedir tal tarefa. Talvez num outro lado..."
Parou e ficou a olhar lentamente para o seu próprio corpo como quem procura uma solução para a guerra no mundo. Dei por mim a seguir o seu olhar e a pensar se ela pensaria me 'carregar' na perna que tantas vezes acariciei, ou nos braços que tantas vezes tive nos meus... na barriga? Sim, como ela adorava sentir a minha mão a passar ao de leve na barriga, ou na nuca, ou no lóbulo da orelha que tantas vezes beijei... Ela ia olhando para o corpo à procura de soluções, à procura de espaço e eu fiquei em suspenso sem saber onde seria o meu lugar mas definitivamente a sentir que não era ali.
Sentia-me a ocupar espaço a mais, sem espaço para estar. O ar entrava-me pelas narinas e sabia a gelo tal era o frio que sentia ao constatar que não tinha espaço, ao constatar que não podia mais respirar, que não me podia mais mexer, que nem a conseguia mais ver...
"Mas trazer-te no peito é uma bagagem muito pesada para transportar... trazer-te aqui é negar-me a transportar mais alguém, é fechar portas, é fechar janelas, é fingir para mim própria e dizer-me que não posso mais amar..."
Não lhe respondi e senti que nem o podia fazer... imóvel continuei a ouvir as palavras que ela teimava em dizer... percebi que as precisava de dizer mesmo sem saber que eu as estava a ouvir...
"No peito não! A ti não! Não posso... vou trazer o nosso amor, todo, todos os nossos dias, todas as nossas loucuras, todas as nossas discussões. Vou guardar o teu bolo de chocolate queimado e o cheiro que teimou em não sair da nossa casa, vou guardar as gargalhadas, vou até guardar as lágrimas mas não te posso mais trazer no peito. Vou guardar o teu cheiro como se fosse o meu mas não posso mais trazer-te no peito. Vou amar-te como sempre te amei mas no peito não posso... é um peso demasiadamente grande. Vou-te amar sempre meu amor mas não te posso trazer mais comigo. Chegou a hora de te deixar partir..."
Levantou-se e virou-me as costas... não deixou flores, nunca as trouxe, sabia que eu detestava esse ritual mórbido. E eu deixei-me ficar e optei por partir.
Percebi que durante aquele tempo todo ela sempre me sentiu, eu era a ausência feita presença e o que ela me quis dizer eu de repente percebi... "Amor foste tu quem morreste e tenho que continuar sem ti. Deixa-me ser feliz!"
Fotografia: Dreamspace reloaded 36 by Denis Olivier
(All rights reserved)
8 comentários:
"Amor foste tu quem morreste e tenho que continuar sem ti. Deixa-me ser feliz!"
LINDO !!!
óptimo para enviar por SMS :-D
Ora aí está um lado prático da coisa que ainda não me tinha ocorrido!! :D
Bem vindo a este meu cantinho! ;)
Adorei a foto, tetricazinha qb.
olha que tu só à lambada opa...em pleno trabalho e eu a fazer-te as devidas perguntas e tu a dizeres que não...
E a saberes que por tudo e por nada me treme o queixo...pffffff!
O que tenho a dizer é que essa casa com tanta porta e janela fechada devia cheirar a mofo...ainda bem que ela as decidiu abrir :P
Isto lembra-me qualquer coisa... pois...
Precious: ainda bem que gostaste ;)
Kru: desculpa amiga... mas fiquei feliz por teres percebido e acima de tudo por teres sentido!!! És sempre uma das minhas melhores leitoras!
Lança: e ai daqueles que nunca tenham tido uma despedida...
Beijo
Gostei muito amiga|!
Gostava de conseguir escrever como tu!
Beijo
Chapas: Obrigada amigo!!! Muito obrigada mesmo!!!
beijo
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