terça-feira, 4 de agosto de 2009

Parcas Palavras



Sou de parcas palavras
das faladas, das confrontadas
as palavras das respostas às perguntas difíceis,
as palavras que estão à defensiva
as palavras que elevam a auto-estima
Sou de parcas palavras
e sou assim no dia-a-dia
sem meias-verdades ou meias-mentiras
sem embelezar e sem poesia
Palavras pretas no papel branco
palavras que se elevam no meio
palavras que marcam o fim
Sou de parcas palavras
e nem sempre falo as mais correctas
nem sempre falo as certas
e arrependo-me amiúde do que ficou por falar no final
arrependo-me das palavras que disse mal
e das que foram mal ditas
das que vieram sem contexto
e das que ficaram escritas
das palavras que passaram do pensamento
e que num sopro transformaram-se em gente
transformaram-se em actos
transformaram-se em vida
Sou de parcas palavras
e por vezes sinto-me uma miúda
que procura as palavras certas
e que se limita a escutar
que se limita a querer inventar
as palavras que mais ninguém possa escutar
os sentidos que mais ninguém consegue compreender
Sou de parcas palavras
e por vezes gostava de não ter que falar
e por vezes gostava que apenas o meu olhar
vos fizesse fazer o que mil palavras não conseguiram
que parem e comecem a Escutar!


Fotografia: Hope by Martin Stranka
(All Rights reserved)

2 comentários:

pp disse...

Parcas...mas muitas vezes acertadas.

:)

João Afonso Adamastor disse...

Excelente composição, gostei bastante... não só pela auto-compreensão que estimula, mas também pela forma da escrita.

Acredito que as palavras escritas ou faladas são sempre poucas, e todos (ou a maioria, que existem pessoas demasiado falantes) padecem sempre do mesmo monólogo dialogante. Sinto-me também alguém de 'parcas palavras'... e que mal é que isso tem, se me deixam apreender o que me rodeia em vez de me inibirem as percepções?!

... continua nesse teu modo de escutar, para que assim possamos continuar a contemplar as tuas vociferações poéticas!

:D