quinta-feira, 10 de maio de 2012

Espaço, tempo e silêncios

Ele tocou-lhe no ombro com a suavidade de algo que não se quer dizer
que não faz sentido ser-se dito
ou foi ela quem lhe tocou
os gestos encontram-se difusos, confusos, diluídos na memória
tocaram-se
sentiram-se
fizeram do espaço algo indefinido
sem sentido
inexistente
Deixaram-se ficar ali de olhos nos olhos, de lábios nos lábios, de mãos a tocarem-se como se fossem instrumentos musicais
deixaram-se levar pelas notas que a noite ia tocando
ela entoando
ele ouvindo
ou o contrário
que a memória faz-nos sempre partidas e torna-se selectiva
deixaram as palavras e os momentos correrem pelas horas
num sprint em direção a uma meta que nenhum deles sabia existir
Assim são os assuntos da carne
que não se pode falar de coração
(se bem que... o que é o coração que não um pedaço de carne?)
Deixaram-se estar enquanto as horas passavam
e como nos filmes
deixaram essa noite acontecer sabendo que outras não se seguiam
E no dia seguinte ficou o espaço
espesso
definido
a fazer-se presente
e deixaram-se ficar de olhos no horizonte
de lábios secos
e com as mãos nos bolsos
Ficou o silêncio
Mas sem arrependimentos
porque a música não acontece sem pausas
e o silêncio é essencial para que se possa ouvir mais
e o espaço é necessário para se ter mais por onde andar

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