domingo, 11 de setembro de 2011

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Por vezes já disse que era algo similar a um parto.
Outras que ultrapassam a vontade própria.
Agora acredito que são espinhos, são facas... não! Espinhos! definitivamente espinhos.
São espinhos que nos saem do corpo, nos rompem as veias, rasgam a pele e vêem ao cimo. Saem. Com alívio. Sem alívio. Com dor. Sem dor.
As palavras têm disto. Têm esta coisa que nos impele, que nos obriga a escrever apenas para não rebentar. Apenas para não rebentarmos. Para não serem espinhos dentro de um corpo aparentemente bom. Aparentemente saudável.
São espinhos. Pontiagudos. Afiados.
Houve alturas em que pensei que era triste não me leres. Hoje agradeço-te por isso. Não me leres é eu não ter que escrever a pensar que o farás. Afinal lês-me todos os dias, não precisas das palavras que escrevo. E hoje é um alívio pensar que não lês. É um alívio dizer que é um alívio. Que acabou. Que podes voltar a respirar. A sorrir. Até mesmo a discutir, mas desta vez pelos motivos certos. O cansaço tomou conta de ti e eu ao teu lado estava exausta. E pedias-me para sorrir e eu tentei. Tantas vezes tentei e tantas vezes não consegui. Porque o teu cansaço era o meu cansaço, porque a tua exasperação era também a minha, porque os obstáculos que se erguiam perante ti duplicavam quando chegavam a mim.
Egoísmo?
Talvez.
Mas todos vivemos os momentos com o nosso corpo, com a nossa cabeça, com os nossos sentimentos. Não os posso negar. Tentei ser forte. Juro que tentei. Tentei sorrir. Juro que tentei. Mas a morte é forte demais, má demais. É sarcástica e deixa-nos de rastos. Não quando chega. Mas todo o caminho que leva, todo o tempo que demora, todos os que arrasta atrás de si. Imponente.
Dizem que a vida consegue ser madrasta. Eu iria mais além e diria que consegue mesmo ser filha da puta. Consegue. De tanta injustiça. De ser tão incoerente. De ser tão aleatória.
Não a morte.
Mas o sofrimento.
Não o de quem vai mas o de quem fica.
Não por ter ido.
Mas pelo processo.
Egoísta?
Que se de dane. Chamem-me de egoísta.
Chamem!
Mas quando o fizerem façam-no na minha cara.
Não se limitem a mandar boquinhas quando chego. Meninas armadas em madres teresas mas que depois não os têm no sítio.
Pessoazinhas que se julgam o máximo.
Chamem mesmo na minha cara.
A olhar-me nos olhos.
E eu aí respondo-vos à letra.
Com todas as letras.
Com todas as palvras.
Com todos os espinhos.
Sim amor, ainda bem que não me lês aqui e que temos todos os dias para o fazer cara a cara.
Porque hoje eu só posso dizer que estou aliviada e feliz por ter chegado finalmente a casa.

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