sexta-feira, 3 de junho de 2011

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Assim de repente fico sem saber o que te dizer. Ouço-te com a surdez que me inunda. As tuas palavras são já pequenas pedras que eu vou tirando pacientemente dos meus sapatos, que pacientemente vou retirando debaixo da pele dos meus pés.
Assim de repente fico sem saber o que pensar. Vejo-me em acções que não são praticadas por mim, com a sensação de que toda a vida fui actriz, e que toda a vida não passa de um filme. Filme de mau gosto, de mau sabor, de mau cheiro. Carnaval sem máscaras, festas sem risadas, copos sem conteúdos, amigos sem coração, corações sem pessoas. Um amontoado de coisas, um amontoado de peças de puzzles distintos, de jogos perdidos, de ânsias perdidas.
Assim de repente fico sem saber o que já soube em tempos. Que as coisas têm início e que depois rezamos aos deuses para estarmos cá quando chegar o fim. Que nem tudo é o que se quer, que a vida é injusta e que a justiça é um termo vago sem copo... sendo um copo é-o sem conteúdo, sendo líquido evapora-se, sendo sólido perde-se.

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