segunda-feira, 23 de agosto de 2010



sinto-o como um pedaço de nada que se transforma aos poucos em tudo
um fio que rapidamente se transforma em novelo
algo de grandioso mas sem qualquer importância, sem textura e vazio de tudo
sinto-o a chegar aos poucos, devagar, mas sempre sem hesitar
sinto-O? sinto-A?
não sei o que é mas chega... vou olhando para a folha de papel e para o teclado do computador com um formigueiro esquisito a inundar-me as extremidades dos dedos
vou sentindo-os a afogarem-se aos poucos
temos que ter atenção, dizem-nos os placards publicitários com toda a sapiência, a morte por afogamento é silenciosa
sinto que é silenciosa demais conforme a água vai subindo e vou-me sentindo presa à minha própria respiração
conforme os meus medos e ansiedades se vão resumindo apenas à quantidade de oxigénio que tenho nos pulmões
conforme deixo levemente de pensar nisso e já nada faz muito sentido e já nada me preocupa por ir aí além...
facto curioso: conforme escrevo "preocupa" reparo que é "procura" o que de facto escrevo... Freud deve explicar (tenho uma amiga que teve há uns dias em casa dele e ele não estava... se calhar é melhor não ir agora pedir-lhe explicações)
é um fio que rapidamente se transforma em novelo
... melhor que isto não consigo explicar


Fotografia: Figure of eight knot by Nuclear Seasons
(All rights reserved)

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